O dia a dia dos cearenses voltou praticamente ao “normal” após a liberação do uso de máscaras. Mas a pandemia segue por aqui, principalmente entre crianças. Em abril, até quinta-feira (28), os pequenos de 0 a 11 anos já representam 46% dos novos casos de Covid.
Neste mês, o Ceará já confirmou 897 casos de Covid, dos quais 409 foram em crianças. Se colocada uma lupa sobre eles, mais da metade (298) atingiram bebês de até 2 anos. Outros 52 infectaram pequenos de 3 e 4 anos; e os 59 restantes, de 5 a 11 anos.
Os dados são do Integra SUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), atualizados até a manhã de sexta-feira (29).
Os casos de coronavírus no Ceará estão em queda desde fevereiro, mês em que quase 26 mil pessoas foram infectadas. Em março, foram 2.139 registros, caindo para 897 em abril. Já entre crianças, houve crescimento: no mês passado, 368 delas testaram positivo; neste mês, até dia 29, foram 409.
Vacinação e uso de máscara
O infectologista pediátrico Robério Leite alerta que as crianças são o grupo menos protegido pela vacinação, que está mais avançada em outras faixas etárias. Ele também cita a retirada das máscaras como agravante para expor os pequenos.
“Ficou muito claro na pandemia de Covid que várias outras doenças respiratórias reduziram devido ao uso de máscaras. O uso seria uma estratégia importante para proteger as crianças, que acabam contaminadas pelos adultos”, recomenda Robério.
A testagem também precisa voltar a ser intensificada, principalmente para as crianças de maior risco, abaixo de 1 ano de idade, que tendem a complicar mais.
A epidemiologista Lígia Kerr observa que “qualquer pessoa com sinais de gripe não acha mais que é Covid”, o que reduz a busca por testes. “Estamos num momento cego, com queda de até 90% nas notificações no mundo”, informa a especialista.
Em março, o Ceará realizou 46.857 testes de Covid. Já em abril, o número caiu para 19.820 exames feitos, uma redução de 57%. Lígia Kerr ressalta que “a Covid não acabou”, e que “está pegando as crianças, que são mais vulneráveis”. Outros vírus respiratórios, como influenza e o vírus sincicial, se somam ao cenário de risco para meninos e meninas.
Nós estamos brincando com fogo, porque essas crianças ainda não têm vacina aprovada pra elas. As crianças vão receber os vírus dos adultos e de crianças maiores, porque o Brasil está sem máscara.
O retorno às aulas presenciais também é um fator que expõe as populações infantil e juvenil aos vírus respiratórios. Luiz Otávio, de 2 anos, “começou a gripar constantemente” desde janeiro, quando começou a frequentar a escolinha.
Segundo a mãe, Dejislana Santos, só em 2022 o menino já ficou gripado 4 vezes. “Ele não tinha contato com outras crianças, porque nasceu na pandemia. Mas uma criança gripou e passou pra ele. Não fizemos teste pra Covid, nunca achei que fosse”, confessa.
Até a última quinta-feira (28), a cobertura vacinal da 1ª dose contra a Covid em crianças de 5 a 11 anos havia atingido 72,5% – mas apenas 38,5% delas já foram imunizadas com a 2ª dose da vacina, segundo dados do Vacinômetro da Sesa.
Fonte: Diário do Nordeste