No primeiro semestre de 2020, os casos confirmados de dengue cresceram 32% no Ceará em comparação com o mesmo período de 2019. Entre janeiro e junho deste ano, o Estado acumulou 13.858 ocorrências da doença, superior aos 10.471 casos da arbovirose em igual intervalo do ano passado, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
O epidemiologista Luciano Pamplona, professor do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que a alta de casos, apesar de significativa, ainda está abaixo do esperado para este ano.
“A expectativa era de uma grande epidemia de dengue no Ceará, algo que estávamos projetando desde 2019 em virtude do retorno da dengue de tipo 2. Temos uma grande parcela da população suscetível a esse vírus”, explica.
A hipótese é que a pandemia do novo coronavírus pode ter influenciado no andamento da doença no Estado, diz Pamplona.“É muito provável que a pandemia de Covid-19 tenha suprimido a dengue na população”, avalia. O resultado, aponta o epidemiologista, poderá ser sentido a partir do segundo semestre deste ano, principal na Região Metropolitana da Capital.
“A grande preocupação que a gente tem é nesse segundo semestre, apesar de não ser o período de sazonalidade do vírus, e o primeiro semestre de 2021. Passamos esses cinco meses sem acompanhamento endêmico por causa da pandemia. Pode acontecer um aumento de focos, e a recirculação do dengue 2 junto com o dengue 1”, completa.
Segundo a Secretaria de Saúde, o monitoramento de arboviroses, feito pelos agentes de endemias no Ceará, está suspenso devido ao avanço da Covid-19 no país.
Além da dengue, outro aumento significativo no Ceará foi os casos de zika. O primeiro semestre de 2020 contabilizou 28 casos desta arbovirose, uma evolução de 180% em relação à 2019, quando 10 ocorrências da infecção foram registrados no Estado.
Já a chikungunya, outra arbovirose monitorada pela Sesa, teve casos reduzidos pela metade: as notificações caíram de 917 nos primeiros seis meses de 2019 para 402 em igual período deste ano, uma queda de 55%.
Litoral Leste com aumento de casos
Dois municípios no Litoral Leste do Ceará foram os únicos a indicar alta incidência de casos notificados de dengue no Estado nas últimas cinco semanas, de acordo com o IntegraSUS, plataforma da Sesa para acompanhamento epidemiológico. Quixeré e Limoeiro do Norte registraram, respectivamente, incidência de 372,6 e 382,9, considerada elevado.
Apesar dos registros, o Litoral Leste não apresentava surto localizado de arboviroses, de acordo com o boletim epidemiológico mais recente, publicado em 26 de junho pela Sesa. O documento mostra que os municípios estão entre as 138 cidades cearenses com baixa infestação de Aedes aegypti, segundo o Levantamento Rápido de Índice para Aedes aegypti (LIRAa/LIA). O índice é alcançado necessário quando a presença do mosquito é inferior a 1%.
Questionada sobre a situação de arboviroses na área, a Sesa informou que é possível considerar que alguns municípios que compõem da região vêm apresentando um aumento no número de casos especificamente de dengue, "o que pode indicar um possível surto".
A Pasta adiciona que os dados mais recentes referentes ao LIRAa não condizem com o momento atual, uma vez que a segunda fase do Levantamento Entomológico (LIRAa e LIA) foi suspensa pelo Ministério da Saúde por causa da pandemia de Covid-19. Ela estava prevista para ser acontecer entre os dias 30 de março e 18 de abril.
Incidência no Nordeste
De acordo com o boletim epidemiológico nacional mais recente sobre a dengue, publicado pelo Ministério da Saúde no início de julho, o Ceará é a região com a segunda maior taxa de incidência de dengue do Nordeste ficando atrás da Bahia. Por aqui, são cerca de 174,1 casos registrados por 100 mil habitantes, enquanto em território baiano a média é de 441,9 infecções na mesma parcela da população.
Ainda de acordo com o levantamento o índice de positividade nos exames cearenses para dengue é o mais alto entre os estados nordestinos: 38,4% dos testes para diagnósticos da doença reagiram para a arbovirose. O coeficiente coloca o Ceará em nono lugar do Brasil em número de positivos. A maior taxa foi indicada no sul do país, no estado do Paraná, com 61,4% de reações para a doença.
Com informações Diário do Nordeste