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domingo, 3 de março de 2019

Homens representam três a cada quatro diagnósticos de Aids no Ceará

No Brasil, existe um ditado popular que "o ano só começa após o Carnaval". E para não "começar" o ano recebendo o diagnóstico de soropositividade do HIV/Aids, após os dias de folia, prevenção ainda é a palavra-chave. Especialmente entre os homens, que representam três a cada quatro diagnósticos do vírus/doença no Ceará.

Ainda entre indivíduos do gênero masculino, a faixa etária de 30 a 49 anos requer mais atenção, de acordo com os dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2018. No documento, as duas faixas etárias, "30 a 39" e "40 a 49", lideram a estatísticas de taxa de detecção de Aids (por 100 mil habitantes), apontando 30,6 e 31, respectivamente.

O recorte de idade não é o único ponto que chama atenção, visualizado no Boletim. A sexualidade ainda tem relação direta com os casos de HIV/Aids registrados. No Estado, ao contrário do que pensa o senso comum, são os homens declarados "heterossexuais" que lideram os casos, porém, os números entre "Homens que fazem Sexo com Homens" (HSH) - homossexuais, bissexuais etc. - mostram um aumento.

"A infecção pelo HIV está ligada às práticas sexuais, e existe um risco associado à prática do sexo anal por questões anatômicas, local suscetível a lesões e fissuras facilitando a transmissão do vírus do HIV", destaca o Núcleo de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

De acordo com dados parciais da Sesa, contabilizados até o último dia 23, o Ceará já registrou 83 casos de HIV, 50 casos de Aids, sendo 15 óbitos pela doença. Em dados apresentados no último boletim epidemiológico, no ano passado, foram registrados 976 casos de Aids, no Ceará. O número apresenta uma redução significativa, se comparado a 2017, quando foram registrados 1755 casos da doença no estado. Entre os adultos, houve 598 casos contabilizados, e entre os jovens de 15 a 24 anos, 243 notificações.

Carnaval 2019

Apesar dos indicadores, a preocupação não atinge apenas os adultos. Entre os homens jovens, de 15 a 19 anos, a taxa de detecção triplicou, saltando de 1,2 para 3,9, entre os anos de 2009 e 2017. Por este motivo, o Ministério da Saúde lançou a campanha de Carnaval contra o HIV/Aids de 2019 com o slogan "Pare, pense e use camisinha".

"Os jovens têm sido foco de campanhas de prevenção nos últimos anos. O Ministério da Saúde desenvolve, em conjunto com as secretarias estaduais e municipais de saúde, ações e campanhas regionais e municipais por ocasião de eventos específicos destinados à juventude, como shows e festas regionais", destaca o Ministério da Saúde.

O estudante Leonardo Costa, 24, convive com o vírus há três anos, e comenta sobre o perigo de tomar decisões precipitadas, levadas pelo impulso de ter relações sexuais, além da importância de manter relações apenas com o uso do preservativo.

"Eu não fazia porque queria, mas acho que porque na hora dá vontade mesmo. Já fiz muito sexo com camisinha mas também fiz sem, e todas por despreparo mesmo. Eu estava querendo, e na hora não tinha, aí pensava 'ah, bora assim mesmo'", relembra o jovem sobre o risco que correu, à época.

"Pesquisas apontam que o uso do preservativo não é consistente entre os mais jovens, embora o nível de informação seja elevado em relação à forma de prevenção ao HIV", complementa a Pasta. Em 2019, o Ministério da Saúde enviou, ao Ceará, 148 mil géis lubrificantes e 976.752 preservativos masculinos, que estão com nova embalagem, mais moderna. Porém, os novos preservativos ainda não chegaram em Fortaleza, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Prevenção

"Em relação à prevenção, o Brasil vem diversificando as ações dentro de um conceito de prevenção combinada, que inclui a distribuição de preservativos masculinos e femininos, gel lubrificante, ações educativas e ampliação do acesso a novas tecnologias, como testagem rápida (incluindo fluido oral), profilaxia pós-exposição e profilaxia pré-exposição", relata a Pasta.

Para além do uso do preservativo, outra forma de prevenção é fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Ceará - além de outros 21 estados e o Distrito Federal: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). De acordo com a Sesa, o método iniciou-se no primeiro semestre do ano passado, e atualmente, 306 pessoas estão em uso da profilaxia em sete unidades de saúde que atendem pessoas com HIV/Aids.

A terapia preventiva PrEP consiste em tomar diariamente um comprimido que impede o HIV, de infectar o organismo, antes de a pessoa ter contato com o vírus. "A PrEP só tem efeito se você tomar os comprimidos todos os dias. Caso contrário, pode não haver concentração suficiente do medicamento em sua corrente sanguínea para bloquear o vírus", alerta o Ministério da Saúde.

Leonardo, que é homossexual, revela que sempre soube do risco de contrair HIV/Aids, mas acha que contraiu o vírus "por falta de informação". "Porque tem a profilaxia pré e pós-exposição, e só ouvi falar das duas depois de muito tempo que contraí o vírus e comecei a me tratar", revela o jovem soropositivo.

O estudante, sabendo da necessidade de tratamento, encontra-se 98% indetectável - situação onde a carga viral do soropositivo é baixa ao ponto de não ser detectada em exames de sangue, e o risco de transmissão é menor. "Não conheço ninguém pessoalmente, mas sei de pessoas que não têm o HIV mas tomam a profilaxia como se tivesse. Todo dia tomam para não correr o risco de pegar", complementa o estudante.

Em relação aos óbitos, o Ministério informa que nos últimos quatro anos, "a taxa de mortalidade pela doença passou de 5,7 óbitos por 100 mil habitantes, em 2014, para 4,8 óbitos em 2017". "A redução é resultado da garantia do tratamento para todos, aliada à melhoria do diagnóstico, além da ampliação do acesso à testagem e redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento", complementa.

Com informações Diário do Nordeste