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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ex-catadora de lixo de Banabuiú vira empresária e ganha destaque na Folha de S. Paulo

A mulher que é filha de Banabuiú, foi para São Paulo, Perdeu o emprego e teve que catar lixo e hoje é empresária. 

Foi preciso 24 anos para que a ex-catadora de lixo Francisca Rabelo, 42 anos, virasse uma empresária de sucesso do ramo de reciclagem, no Itaim Paulista, bairro da zona leste paulistana.

Além de abrir, em junho, uma filial da cooperativa que administra na cidade de Banabuiú, no Sertão Central cearense, ela criou uma espécie de banco ecológico onde o peso dos recicláveis é transformado em tratamento odontológico, cursos profissionalizantes e, se os catadores preferirem, pode resgatar o dinheiro do trabalho com juros.

Francisca começou a recuperar materiais recicláveis pelas ruas do bairro quando ela e seu marido perderam o emprego nos anos 1990.

Junto a outras catadoras, criou em 2005 a Cooperativa Fênix-Ágape, hoje uma das principais do ramo da reciclagem na zona leste da cidade. Na entidade, trabalham cerca de 60 famílias e outras 200 são ajudadas de forma indireta com os projetos sociais desenvolvidos dentro da cooperativa.

Em 2007, conseguiu apoio do Instituto Ressoar, da Rede Record, que criou a primeira “Casa do Fazer” no Brasil –uma espécie de casa/escola onde os alunos fazem cursos profissionalizantes gratuitamente.

Durou pouco tempo, mas a estrutura foi herdada pela Cooperativa, que a utiliza para oferecer os cursos de informática e artesanato a moradores. No local, também é oferecido tratamento odontológico a baixo custo.

Em 2013, Francisca criou o “Eco Banco Fênix Ágape”, um projeto que transforma o peso dos recicláveis recolhidos em conhecimento. Funciona assim: os resíduos são pesados e transformados em uma espécie de crédito depositado em uma poupança no nome do cooperado.

Os juros desta poupança podem pagar um tratamento dentário, custear cursos de informática, inglês ou espanhol.

“Os valores dos recicláveis não importam para nós, pois o importante é ter a consciência de poupar e transformar isto tudo em conhecimento próprio”, diz Francisca. “Se o catador não quiser nada disto pode receber em dinheiro com juros, depois de 30 dias”, completa.

A ideia deu certo e hoje os cursos possuem, a cada turma, cerca de 20 alunos. Ainda existe fila de espera, principalmente no tratamento dentário.

Ao falar da família, a cearense, há 26 anos no Itaim Paulista, diz que seu filho não aceitava seu trabalho. “Ele tinha vergonha porque eu catava lixo na rua e buscava ele na escola logo depois. Quando fui chamada para dar minha primeira palestra na escola dele, a visão mudou até que ele virou o meu maior apoiador dentro da família”.
Francisca diz que quer atingir 100% das famílias do Itaim Paulista e acredita que o bairro tem potencial para reciclagem. Quanto às conquistas alcançadas desde o serviço de catadora de lixo até empresária, Francisca lembra seu principal lema: “Querer é poder”.