Os 21 adolescentes e uma criança do Ceará que estão em São Bernardo do Campo (SP) depois de terem sido enganados por um falso "olheiro" de um time de futebol estão com as passagens aéreas compradas, pela Prefeitura de Fortaleza, para retornar à capital cearense.
A informação é da conselheira tutelar Izaíra Cabral, que está em São Paulo acompanhando o desdobramento do caso como representante da Secretaria da Cidadania e Diretos Humanos, da Prefeitura de Fortaleza. “Eles estão em um abrigo da Prefeitura de São Bernardo do Campo e se encontram muito tranquilos e bem tratados”, disse.
De acordo com a Conselheira Tutelar, o retorno do grupo depende da liberação do juiz que está à frente do caso. “Acredito que o retorno se dará a partir de quinta-feira [27], pois como amanhã [terça-feira] é feriado em Fortaleza, mesmo que o juiz libere a viagem, só poderemos fazer a marcação dos bilhetes na quarta-feira [26]”, acredita.
Trinta e três garotos com idades entre 11 e 22 anos foram levados para São Paulo pelo falso olheiro Daniel Magnum Nunes da Costa, de 28 anos, com a promessa de treinar em um clube de futebol de São Paulo. No contrato, as famílias se comprometiam a pagar as passagens aéreas e um valor mensal de R$ 350 destinado ao custeio da alimentação. Além disso, as famílias também pagaram entre R$ R$ 2 mil e R$ 2,5 mil por uma espécie de matrícula. Em caso de descumprimento de qualquer cláusula do contrato. As famílias pagariam R$ 5 mil de multa.
O que os jovens encontraram ao chegar a São Paulo foi uma realidade bem diferente daquela que havia sido prometida. “Ele disse que a gente iria treinar em um clube, com todas as condições. A promessa era de que a gente iria para Campinas, mas acabamos indo parar em São Bernardo, em uma casa imunda e isolada que não tinha nem cama. A promessa de seis refeições diárias não foi cumprida. A gente tinha apenas duas e só arroz com salsicha”, conta Alysson Christian, de 17 anos, uma das vítimas do falso 'olheiro'.
Além dos maus-tratos, havia também abuso sexual. “Ele ficava pegando na gente e quando a gente reclamava, ele nos punia, deixando a gente de lado. Um dos meninos contou que ele queria 'ficar' com ele e quando não aceitou, passou a ser ignorado pelo Daniel [Magnum Nunes da Costa]”, conta Alysson.
O crime foi descoberto na terça-feira (18) depois que dois jovens procuraram ajuda dos vizinhos. “Os mais jovens passaram a noite chorando de fome. Quando amanheceu eu, que tinha algum dinheiro, fui comprar comida em uma mercearia. A gente se reuniu e resolveu pedir ajuda”. Além de alimentos, os vizinhos levaram os garotos para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região, já que eles se queixavam de fraqueza e desmaios. O Conselho Tutelar e a Polícia Militar foram acionados, os jovens resgatados e o falso 'olheiro', preso em flagrante.
Daniel Magnum Nunes da Costa é acusado de estelionato, maus tratos, estupro de vulnerável e falsificação de documento público já que diminuía a idade dos jovens no documento de identidade o que, segundo ele, facilitaria a contratação por algum clube.
Dos 33 garotos levados para São Paulo, alguns já retornaram às suas cidades às expensas das famílias. O Alysson Christian decidiu permanecer em São Paulo e continuar lutando pelo sonho de se tornar um jogador de futebol.