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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Extorsão milionária e carro rastreado: entenda o assassinato de advogado morto a tiros em Fortaleza


O assassinato do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, morto em 6 de maio em Fortaleza, envolve policiais acusados do homicídio, extorsão milionária, denúncias de enriquecimento ilícito de empresário e a suposta prática de "rachadinha" de um deputado federal do PL.

Segundo denúncia do Ministério Público, aceita pela Justiça na última segunda-feira (28), o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso foi o mandante do crime, ocorrido em 6 de maio; os assassinos, dois ex-policiais que estão presos, dispararam vários tiros no advogado quando ele chegava à residência, no Bairro Parquelândia, em Fortaleza. Em seguida, eles fugiram em uma moto.

A motivação do crime foi a cobrança de valores que o advogado fazia para que o nome do empresário não fosse citado em reportagens negativas no grupo de comunicação Don7 Media Group, do jornalista Donizete Arruda, segundo denúncia do MPCE. O advogado assassinado trabalhava para Donizete.

Os jornais do grupo veicularam uma série de reportagens questionando a legalidade do enriquecimento do empresário. Com o valor pago, Donizete Arruda se comprometeria a parar de fazer reportagens sobre o Ernesto Wladimir e remover o conteúdo já publicado.

O advogado cobrou inicialmente R$ 1,5 milhão; em seguida, o valor foi acertado em R$ 800 mil e foi pago, segundo o empresário Ernesto Wladimir, apontado na denúncia como mandante do assassinato.

O g1 e a TV Verdes Mares tentam contato com Donizete Arruda e o deputado Júnior Mano, listados como testemunhas na denúncia do Ministério Público, mas não obtiveram resposta de Arruda até a última atualização desta reportagem.

Já a equipe de Junior Mano disse, em nota, que a referência ao nome do deputado "não encontra nenhum respaldo no contexto probatório, tratando-se de uma versão isolada e inverídica apresentada apenas pelo acusado com objetivos políticos e de ofuscar o grave crime pelo qual está preso e respondendo perante a Justiça Criminal".

"Reiteramos nosso compromisso com a transparência, a ética e a veracidade dos fatos, e confiamos nos órgãos responsáveis pela persecução penal, dos quais estamos inteiramente à disposição.”

A defesa do empresário Ernesto Wladimir disse que "se manifestará nos autos do processo". A advogada dos ex-PMs, Alexandrina França, informou ser "prematuro fazer algum pronunciamento, em razão da ação penal acabar de ter sido instaurada e tratar-se de um processo que conta com uma investigação policial extremamente extensa e complexo".

Suposto envolvimento de deputado federal

Ernesto Wladimir era proprietário de uma cooperativa de saúde. Segundo o próprio Ernesto, em depoimento à Polícia Civil, as denúncias contra ele começaram a aparecer nos veículos de comunicação do grupo Don7 Media Group após ele recusar devolver valores vinculados à emendas parlamentares da área da saúde que o deputado federal pelo Ceará Júnior Mano (PL) havia aplicado na cooperativa.

A relação entre Donizete Arruda, que é dono do grupo de comunicação, e o deputado Júnior Mano, "é de conhecimento público", disse Ernesto, em depoimento. Ele acredita que, por não entregar o dinheiro para o parlamentar, o nome dele começou a aparecer nas reportagens de Donizete Arruda.

Rastreador em veículo

Os policiais, segundo a denúncia, instalaram um rastreador no escapamento do carro da vítima para monitorar localização. Conforme investigação, a ferramenta "foi fundamental na execução do crime", possibilitando que os agentes soubessem a localização precisa de Francisco.

Os criminosos tentaram instalar o rastreador no veículo em 24 de abril, quando procuraram o carro no escritório da vítima com a desculpa de que estavam à procura de um veículo à venda. O segurança do estacionamento reconheceu ambos e a ação foi frustrada.

A ferramenta foi colocada em uma segunda tentativa, em 28 de abril, enquanto Ernesto e Di Angellis se encontravam em uma padaria no município do Eusébio para encerrar as negociações.

Denúncia

Após a Polícia Civil concluir investigação sobre o assassinato do advogado Francisco Di Angellis, de 41 anos, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) denunciou à 1ª Vara do Júri de Fortaleza contra os três suspeitos do crime:

o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso;
o ex-policial militar José Luciano Souza de Queiroz;
e ex-policial militar Glauco Sérgio Soares do Bonfim.

O homicídio aconteceu quando Francisco descia do veículo para entrar na própria casa no Bairro Parquelândia, em Fortaleza, e foi surpreendido pela aproximação de uma motocicleta com dois homens.

Fonte: g1