O ex-presidente Jair Bolsonaro sabia do esquema de fraude em cartões de vacinação contra Covid-19, que motivou operação da Polícia Federal deflagrada nesta quarta-feira (3). A informação é de um documento da PF que foi obtido pelo jornal Folha de S. Paulo.
Em representação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal aponta que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, era o principal articulador da fraude. Marcelo Câmara, assessor especial do presidente, também era um dos envolvidos.
"Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento", diz o documento.
A suspeita é de que houve fraude nos dados de vacinação de Bolsonaro, da filha dele de 12 anos, do próprio Mauro Cid, da mulher e da filha do ex-ajudante.
As informações fraudulentas sobre a aplicação de duas doses da vacina da Pfizer em Bolsonaro foram incluídas em 21 de dezembro de 2022, segundo a investigação.
Um dos indícios de que Bolsonaro sabia da fraude é o fato de que foi emitido certificado de vacinação no perfil de Bolsonaro no ConecteSUS um dia após a inserção de dados falsos. A emissão se deu no celular de Mauro Cid.
Após ser alvo da operação, Jair Bolsonaro afirmou, em coletiva de imprensa, que não tomou vacina contra Covid-19 e não realizou nenhum tipo de adulteração no documento. O ex-presidente disse ainda que a filha, Laura, não foi imunizada contra o coronavírus.
OPERAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL
Em operação deflagrada nesta quarta-feira (3), a Polícia Federal prendeu seis pessoas e cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em Brasília e no Rio de Janeiro. Mauro Cid foi um dos presos.
A PF fez buscas na casa do ex-presidente Bolsonaro e apreendeu o celular dele. Mais cedo, foi informado que o celular da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro (PL), também havia sido apreendido, mas ela negou isso em suas redes sociais.
A Operação Venire é parte do inquérito policial que apura a atuação das chamadas “milícias digitais”, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF). A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes.
COMO FUNCIONOU O ESQUEMA?
Segundo divulgado pela Globo, Mauro Cid determinou que um sargento da Ajudância de Ordens da Presidência da República, identificado como Luís Marcos dos Reis, incluísse dados forjados nos sistemas do Ministério da Saúde.
A inserção de dados falsos precisou ser refeita, em outra oportunidade, porque, na primeira tentativa, foram inseridos no sistema lotes que tinham ido para outras cidades — e não para Brasília. Nessa segunda tentativa, os envolvidos deixaram rastros que facilitaram a apuração dos supostos crimes.
Após uma quebra de sigilo autorizada pela Justiça, a investigação teve acesso a trocas de mensagens entre os envolvidos que confirmaram a fraude. A Polícia Federal afirma que o objetivo do grupo com o esquema era "manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas e sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19".
"Tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos)", detalhou a corporação.
Fonte: Diário do Nordeste