Mais de 3 mil doses de vacinas contra a Covid-19 estão retidas após o freezer que as mantinha refrigeradas sofrer um problema técnico e alterar a temperatura em Jaguaruana, no interior do Ceará. Além de 3.391 doses de CoronaVac, Pfizer e AstraZeneca, o freezer mantinha, 181 vacinas de HPV, que protege contra o papiloma vírus humano. O caso foi registrado na Delegacia Municipal de Jaguaruana no dia 13 de setembro.
A Polícia Civil informou, nesta quarta-feira (29), que o caso é investigado e o inquérito encontra-se em segredo de Justiça, portanto, "mais informações só poderão ser repassadas posteriormente".
Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o município comunicou o caso à Central de Armazenamento e Distribuição dos Imunobiológicos (Ceadim), através de envio do Formulário no dia 13 de setembro. Em 16 de setembro, a ocorrência foi comunicada ao Ministério da Saúde pela Ceadim, que aguarda parecer técnico quanto à utilização ou não das doses, que estão armazenadas em temperatura adequada.
"A Sesa aguarda o posicionamento do MS [Ministério da Saúde] e, se necessário, realizará a reposição das doses da vacina, mediante disponibilidade de saldo no estoque Estadual", disse a secretaria em nota.
'Imunobiológico Sob Suspeita'
A Secretaria Estadual da Saúde explica que as vacinas que permanecerem fora da temperatura ideal recomendada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são consideradas um “Imunobiológico Sob Suspeita”.
"Vacinas são produtos sensíveis ao calor, ao frio e à luz. As Redes de Frio estadual e municipais são tecnicamente preparadas para a conservação dos imunobiológicos, assegurando suas características originais. Entretanto, imunizantes que, em qualquer uma das instâncias (Estadual, Regional ou Municipal) permanece fora da temperatura ideal recomendada pelo Programa Nacional de Imunizações – PNI é considerado um 'Imunobiológico Sob Suspeita'", disse o órgão.
Sobre as alterações na temperatura do freezer onde os imunizantes estavam armazenados em Jaguaruana, a pasta disse que podem estar relacionadas à falta de energia elétrica, problemas relacionados ao equipamento de refrigeração e outros.
"Desta forma, é recomendado o preenchimento do 'Formulário de Registro de Desvio de Qualidade', no qual se faz necessário informar o nome do imunobiológico; lote e validade; laboratório produtor; temperatura antes e após a ocorrência; tempo pelo qual os imunobiológicos ficaram expostos a alterações de temperatura e a descrição da ocorrência."
Perícia no equipamento de armazenamento das vacinas
A Perícia Forense do Ceará avaliou o freezer para descobrir a causa da alteração na temperatura. De acordo com o secretário da Saúde de Jaguaruana, Reginaldo Araújo da Silva, o resultado da perícia descartou a possibilidade de ato criminoso.
Também foi constatado pela Perícia Forense a possibilidade de falha ou defeito no equipamento, cuja hipótese é reforçada por um problema descoberto pelos peritos no compressor do freezer, doado à cidade pela Secretaria da Saúde do Ceará.
O secretário afirma que aguarda um posicionamento da Secretaria da Saúde sobre as vacinas testadas. "Temos responsabilidade com a população e essas vacinas só serão usadas se forem liberadas. Ainda estamos no aguardo", disse Reginaldo.
Técnica de enfermagem percebeu falha no equipamento
Conforme o Boletim de Ocorrência feito pela coordenadora de imunização do município, ela foi comunicada sobre a falha no equipamento no dia 11 de setembro, através de uma técnica de enfermagem, que percebeu que o freezer onde os imunizantes estavam armazenados apresentava alteração na temperatura, inclusive, a técnica verificou na ocasião que "as vacinas estavam com uma temperatura superior à permitida".
Ainda segundo o relato à polícia, a profissional de saúde foi ao local para pegar vacinas que seriam usadas para a vacinação durante uma ação social no Sítio Volta, na zona rural da cidade. Após ser comunicada sobre o ocorrido, a coordenadora afirma que foi ao local e constatou o que a técnica havia comunicado.
No mesmo dia do registro do caso, a técnica de enfermagem que encontrou as vacinas guardadas no freezer com a temperatura alterada depôs na delegacia. Além de reafirmar o que já tinha repassado para a coordenadora de imunização da cidade, a mulher informou ao delegado que um dia antes do ocorrido todos os freezers que armazenam vacinas foram verificados por ela e por outra técnica e, na ocasião, não foi constatada nenhuma irregularidade nos equipamentos.
No dia 14 de setembro, a segunda técnica de enfermagem que participou da fiscalização das câmaras frias um dia antes também foi ouvida pela polícia. A mulher informou que é a responsável pela rede fria do município, mas, como entrou de férias, a outra técnica estava responsável pelo local. Ela também confirmou que os equipamentos não estavam com problema.
Fonte: G1