“Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Sério, pessoal. Parem com isso”, escreveu a Food and Drug Administration (FDA), órgão de regulação de remédios e alimentos dos Estados Unidos na manhã de sábado, 21. A mensagem é um alerta sobre o uso do remédio ivermectina para tratamento da Covid-19.
A agência explica que a ivermectina não é aprovado para o tratamento ou prevenção de Covid-19 em humanos e seu uso nessa função pode trazer danos graves. A decisão é baseada na análise de dados científicos dos medicamentos para identificar se é seguro e eficaz para um uso específico. “O uso de qualquer tratamento para Covid-19 que não seja aprovado ou autorizado pelo FDA, a menos que seja parte de um ensaio clínico, pode causar danos graves”, aponta ainda o artigo.
Nos Estados Unidos, a ivermectina é frequentemente usada para tratar ou prevenir parasitas em animais. Os comprimidos são aprovados pelo FDA para tratar pessoas com estrongiloidíase intestinal e oncocercose, duas doenças causadas por vermes parasitas. Além disso, algumas formas tópicas de ivermectina, aplicadas na pele, são aprovadas para tratar parasitas externos como piolhos e doenças da pele como rosácea.
É importante observar que esses produtos são diferentes daqueles para pessoas e seguros quando usados conforme prescrito apenas para animais.
O texto explica ainda que a ivermectina animal pode ser altamente concentrada porque é usada para animais grandes como cavalos e vacas, que podem pesar muito mais que humanos. A agência afirma que essas altas doses podem ser altamente tóxicas em humanos. Muitos ingredientes inativos encontrados em produtos de origem animal não são avaliados para uso em pessoas e os riscos não são conhecidos.
A ivermectina não é um antiviral, ou seja, um medicamento para o tratamento de vírus, como o coronavírus, por exemplo. “O FDA recebeu vários relatórios de pacientes que necessitaram de suporte médico e foram hospitalizados após se automedicarem com ivermectina destinada a cavalos”, afirma o comunicado.
“Há muita desinformação por aí, e você deve ter ouvido que não há problema em tomar grandes doses de ivermectina. Isso está errado”, escreve ainda a agência. O alerta reforça que até mesmo os níveis de ivermectina para usos aprovados podem interagir com outros medicamentos, como anticoagulantes. Uma superdosagem do medicamento pode causar náuseas, vómitos, diarreia, hipotensão (tensão arterial baixa), reações alérgicas (comichão e urticária), tonturas, ataxia (problemas de equilíbrio), convulsões, coma e até morte.
O que diz a Anvisa
O órgão brasileiro responsável por medicamentos, alimentos e vacinas é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por meio de nota, em abril, a Agência explicou que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso do medicamento para o tratamento da Covid-19. As indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento.
No mesmo mês, a Anvisa aprovou a liberação para uso emergencial de dois medicamentos experimentais da farmacêutica suíça Roche contra a Covid-19, desenvolvidos em parceria com a empresa de biotecnologia americana Regeneron. Os remédios, contendo casirivimabe e imdevimabe (REGN-COV-2), atuam em ligação com a coroa do vírus de forma a impedir sua entrada nas células ainda não infectadas para replicar o material genético, controlando a doença.
Uso no Brasil
A ivermectina fazia parte do grupo de medicamentos fornecidos pelo governo federal a estados e municípios no tratamento contra a Covid-19. Os medicamentos do kit também foram defendidos por apoiadores do atual governo e indicados no aplicativo do Ministério da Saúde, TrateCov, em Manaus, no início deste ano. A pasta alegou que a plataforma foi colocada no ar por um hacker.
Por meio de documentos enviados à CPI da Covid em julho, o Ministério da Saúde admitiu que a cloroquina e os medicamentos que fazem parte do “Kit Covid” são ineficazes no combate da doença. Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população", diz o documento.
Fonte: O Povo