Mais de quatro meses após a primeira morte, o Ceará soma, até terça-feira (28), 7.586 óbitos causados pela Covid-19. Mas o cenário parece estar mudando no Estado. Há nove semanas consecutivas, desde o final de maio, o Estado vem apresentando números menores de mortes. Além disso, há cinco semanas, também há quedas consecutivas nos registros de novos casos, de acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
Entre a Semana Epidemiológica (SE) 21, referente ao período 17 a 23 de maio, e a SE 22, de 24 a 30 do mesmo mês, houve uma redução de 22% no número de mortes, saindo de 997 ocorrências para 769. Essa diminuição também ocorre em relação a SE 23, de 31 de maio a 6 de junho, equivalente a 21% a menos, com 606 óbitos. A tendência de redução segue repetindo ao longo das nove semanas.
Entre a SE 29, de 12 a 18 de julho, e SE 30, últimos números registrados pela Sesa, a quantidade de óbitos pela Covid-19 decresceu de 231 para 202, mantendo novamente uma redução, dessa vez equivalente a 12%. A diminuição média na redução das nove semanas foi de 15,5%, referente aos dados entre a SE 21 e a SE 30, de 19 a 25 de julho. Comparando a quantidade de óbitos entre essas duas semanas, a redução foi de 79,7%, caindo de 997 mortes para apenas 202.
Em relação à diminuição dos novos casos do coronavírus, a queda tem acontecido desde a metade do mês de julho, registrando cinco semanas consecutivas de redução. Na SE 25, referente a 14 até 20 de junho, foram contabilizados 13.339 ocorrências, diminuindo para 10.954 na SE 27, equivalente ao final do mês até dia 4 de julho. A maior queda ocorreu entre a SE 29 e 30, saindo de 4.709 para 1.631 novos casos, uma diminuição de 65%. No total, comparando o valor da SE 25 com a 30, a queda foi de 87,7%.
A secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida, acredita que a redução se deve a um conjunto de fatores que dependem não só da gestão, mas também de fatores assistenciais e da sociedade civil, que, segundo ela, participa aderindo às medidas de isolamento, distanciamento e de higiene.
"Foi um conjunto de medidas importantes de regulação. Os decretos de isolamento social no tempo correto, fazendo com que as pessoas cumprissem um distanciamento social forçado, e, com isso reduzir a transmissão. A normativa do uso de máscara obrigatório", exemplifica.
A assistência hospitalar também é apontada como fator relevante para a redução. Hoje, diz a secretária, os pacientes chegam para serem atendidos em estados menos graves porque já foram diagnosticados, isolados e acompanhados na atenção primária. "Não é mais como foi em fevereiro e março, quando havia muita incerteza em relação, por exemplo, à terapêutica e aos exames. Hoje em dia estamos muito mais maduros para lidar com a Covid-19, e, com isso, temos uma mortalidade menor nos hospitais", afirma Almeida.
Na visão do epidemiologista Luciano Pamplona, a redução dos casos do coronavírus não possui uma causa única, sendo resultado do esforço tanto da população, em cumprir o isolamento social e utilizar a máscara; quanto do governo, em garantir medidas de prevenção e combate à Covid-19. "O plano de governo apresentado surtiu efeito de conter a transmissão da doença mesmo com a flexibilização, ao ponto de hoje, com mais de 90% da cadeia produtiva já liberada, a gente não teve esse repico esperado em relação ao aumento de casos", declara.
Referente ao retorno gradual de pessoas na rua, o especialista acredita que o momento adequado, com segurança total, só deve existir quando houver uma vacina. No entanto, analisando o resultado do plano adotado pelo governador Camilo Santana e pelo prefeito Roberto Cláudio, é possível perceber que Fortaleza mantêm o decréscimo dos casos e do número de mortos. "Foi um êxito no sentido que a gente liberou as quatro etapas previstas e não houve um aumento nos casos", coloca.
Mesmo com a abertura, Luciano reafirma a importância de seguir as medidas de prevenção. "É fundamental da permanência do uso de máscara, porque talvez isso esteja segurando a propagação da doença de forma definitiva. Eu acho que o uso de máscara, lavar as mãos é uma atividade muito importante, contribuindo para manter a doença em declínio", explica.
Interior em escalada
Apesar do cenário geral ser de queda, no interior do Estado, a Covid-19 avança acima da média cearense. É o caso das macrorregiões de saúde do Cariri, com 44 cidades, e do Litoral Leste/Jaguaribe, com 20 municípios. Entre os dias 20 e 27 de julho, os casos cresceram 1,2% e 0,86% nas áreas, respectivamente, enquanto a evolução do Ceará foi 0,67% no mesmo intervalo, de acordo com os dados do IntegraSUS da última terça (28). É a terceira semana consecutiva em que as regiões contam novos casos acima da média.
No mesmo ritmo do cenário cearense, a área de saúde de Fortaleza mantém os níveis de crescimento reduzidos. Nos arredores da Capital, foram 81.055 casos até terça, elevação de apenas 0,57% em relação ao balanço anterior, com 80.589 ocorrências. A quantidade de novos óbitos também é baixo. Na região, as fatalidades cresceram em 0,57%, quase quatro vezes menor do que o crescimento de mortes no Ceará, que indicou 2% de aumento.
Para o médico infectologista pediátrico Robério Leite o motivo para o desnível entre interior e Capital está na forma como a doença entrou no Ceará. "Os primeiros casos chegaram em Fortaleza, que já passou pelo pico. As regiões que passam por aumento hoje registraram casos bem depois da Capital. São picos diferentes em Fortaleza e no interior. É uma onda de contágio que se desloca", articula.
A situação se repete quando o número de morte é levado em conta. Diferente de Fortaleza, as outras quatro macrorregiões sanitárias cresceram acima da média de mortes calculada para o Ceará nos últimos sete dias. No Estado, o avanço foi de 2% enquanto no Cariri, a fatalidade cresceu 11%. Da mesma forma, o Sertão Central indicou 5,5%, seguido de Sobral (3,39%) e do Litoral Leste/Jaguaribe (3,37%).
Pamplona alerta que a transmissão da Capital para municípios do interior é algo visto em outros estados também. Sobre os números de ocorrências fora da Região Metropolitana, Robério afirma que "o que preocupa mais nessa situação é a quantidade de acesso aos serviços de saúde". "Diferentes da Capital, nessas regiões, são poucos os instrumentos de saúde. É muito importante que se não for frisado o isolamento social, a situação não vá estabilizar e acontecer o que acontece em outros países, com uma alimentação entre as regiões. É a questão de trazer do interior de volta para Fortaleza", adiciona.
Mais de 165 mil casos positivos
Em atualização nessa terça-feira (28), o Ceará registrou 165.703 casos confirmados de Covid-19. Os dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) também apontam que 7.616 pessoas morreram em decorrência da doença.
Ao todo, 138.765 pacientes obtiveram alta da enfermidade e a taxa de letalidade da doença se mantém em 4,6%. 75.917 casos ainda são investigados e 439.787 exames foram realizados desde o início da pandemia no Estado.
Os indicadores da capital cearense seguem em maior destaque e há 41.658 diagnósticos positivos e 3.689 mortes. Em seguida, aparecem Sobral, com 9.648 casos, e Juazeiro do Norte, com 7.190.
Maracanaú e Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, também lideram a lista, são 5.100 e 4.972 casos, respectivamente.
Com informações Diário do Nordeste