Um balanço comparativo feito com dados dos registros de mortes pela Covid-19 no Ceará frente ao número de vítimas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) nos 12 meses de 2019 no Estado mostra que o número de vítimas da doença já supera o número de óbitos por estes tipos de crimes.
Na somatória, segundo dados do último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (Sesa), divulgado na noite desta terça-feira (2), mostra que 3.504 morreram em decorrência do novo coronavírus. Já conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS), 2.257 pessoas perderam a vida no ano passado por homicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais com óbito.
Os números retratam uma crise sanitária em uma zona com altas taxas de violência. As 24,7 mortes por 100 mil habitantes do período passado já configuram uma epidemia na segurança. Para as Organizações das Nações Unidas (ONU), o teto do índice seria de 10.
A taxa de letalidade do novo coronavírus é de 6,4. O dado é diferente de mortalidade pois afere apenas o saldo de infectados e mortos, sem considerar geral dos residentes no Ceará.
“Se concentra em dois meses uma mortalidade que, pela violência, caberia no ano inteiro. Isso é dramático para a população. A morte por coronavírus deixa insegurança na família inteira, as pessoas se perguntam se estão contaminadas”, avalia o médico sanitarista Manoel Fonseca, especialista em epidemiologia. Ele observa que, para os familiares das vítimas, é gerada uma carga psicológica muito forte.
Fonseca considera que o comparativo motiva “uma preocupação extraordinária”, uma vez que as mortes causadas pela doença alcançam todas as faixas etárias. “O pior é que essa tendência não se acabou. Alguns estudos que estão avançando mostram que a mortalidade vai até o final de agosto, e só vão reduzir em setembro. Nós vamos superar qualquer indicador até lá”.
Perfil dos óbitos
Segundo o Atlas da Violência de 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o indivíduo do país com mais probabilidade de morte violenta intencional é um homem jovem, solteiro, negro, com até sete anos de estudo e que esteja na rua entre 18h e 22h.
Quando se trata dos CVLIs, as características nacionais são similares no Ceará. Aspecto não seguido pela Covid-19, com perfil mais abrangente.
A maioria das vítimas pela doença tem faixa etária acima de 70 anos. Até o último boletim epidemiológico semanal da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), divulgado no dia 26 de maio, a letalidade nestas pessoas era maior: 32,9% para homens, e 23,5% no sexo feminino.
A idade avançada é facilitador da Covid-19, assim como doenças respiratórias, cânceres, obesidade ou tabagismo. Mas todos estão suscetíveis. Os adultos economicamente ativos concentram os casos (67,6%) e correspondem a 12% das mortes.
“A Covid é um vírus e os primeiros cinco dias dão indícios se o paciente vai evoluir ou não para fase de gravidade. É quando pode criar o problema inflamatório e complica o pulmão, com pacientes com o órgão comprometido em 70%, é um processo rápido. Mas o crescimento e a evolução ao óbito dependem de muitos fatores, do quadro de risco, da imunidade própria, da quantidade de vírus e do tratamento adequado. Esse quesito é muito importante no tratamento”, declara o infectologista Anastácio Queiroz.
Os fatores listados traçam as individualidades e as resistências de cada paciente. No entanto, a estatística mais importa quando os números se transformam em nomes. O tempo médio de internação do paciente acometido com a doença no Ceará é de oito dias.
Mais de 50 mil infectados
O Ceará tem 54.683 casos positivos de Covid-19 e 3.504 óbitos, segundo dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde. A atualização foi às 19h27 desta terça-feira (2). Nesta segunda-feira (1º) o Estado ultrapassou os 50 mil diagnósticos positivos da doença. A plataforma aponta ainda o município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, com 117 mortes, sendo a terceira cidade cearense a superar uma centena de óbitos, atrás de Fortaleza (2.277) e Maracanaú (131).
Neste domingo (31), o estado ultrapassou os 3 mil óbitos. No dia anterior, sábado (30), foram registrados 9.427 casos. A grande quantidade de registros ocorreu por causa da liberação do resultados de mais de 20 mil testes, incluindo os do tipo PCR, testes rápidos e sorologia, segundo a Sesa. Ao todo, 128.753 testes já foram realizados no Ceará.
Em Fortaleza já foram registradas 2.277 pessoas que não resistiram à enfermidade, além de 25.344 diagnósticos. A quantidade de casos investigados do novo coronavírus (SARS-CoV-2) em todo o estado é de 53.462. Houve a recuperação de 35.623 pessoas.
Os números apresentados pela Secretaria da Saúde são atualizados permanentemente e fazem referência à disponibilidade dos resultados dos testes para detectar a presença dos vírus, ou seja, não necessariamente correspondem à data da morte ou do início da apresentação dos sintomas pelo paciente.
Com informações G1