Para pais e responsáveis, a segurança das crianças é o principal fator que motiva um estado de constante alerta. A preocupação é justificável: no Ceará, 158 crianças morreram após sofrerem acidentes, segundo dados de 2015 fornecidos pelo Ministério da Saúde através da plataforma Datasus. Considerando o Brasil como um todo, o número de vítimas sobe para 3.885.
Os dados divulgados referem-se às crianças na faixa etária de 0 a 14 anos. Dos 158 óbitos registrados em 2015 no Estado, 52 vítimas tinham idades situadas entre 5 e 9 anos, o que representa a maioria dos casos.
O trânsito é a principal causa das mortes, sendo o pivô de 42% dos acidentes que envolvem crianças. Outros fatores incluem afogamento, queimaduras, sufocação e queda. "Existe um estudo internacional que traçou um perfil geral das crianças vítimas de trauma. Normalmente, são do sexo masculino e têm entre 6 e 7 anos de idade. Essa é a criança que está na rua, que mais se expõe, correndo risco de ser atropelada ou sofrer qualquer outro tipo de acidente", explica Francielze Lavor, pediatra do Instituto Doutor José Frota (IJF).
Em períodos de férias e feriados prolongados, segundo a pediatra, a maioria dos atendimentos de emergência às crianças ocorre devido à acidentes domésticos, por ser a época em que passam mais tempo em casa. Nos demais momentos do ano, os acidentes sofridos costumam acontecer no peridomicílio.
"É a área que representa as imediações do domicílio, a rua de casa, onde as crianças vão jogar bola, empinar pipa ou andar de bicicleta, aí correm risco de serem atropeladas, por exemplo. Quando a pipa fica presa nos fios dos postes e a criança vai tentar tirar, ela pode levar uma descarga elétrica. É algo extremamente perigoso. Elas não têm tanta noção espacial ou de perigo, por isso é preciso ter um adulto supervisionando", diz.
Hospitalizações
Entre janeiro de 2015 e março de 2016, no Brasil, 117.000 crianças foram hospitalizadas na rede pública de saúde devido à acidentes. Destas, 5.271 estavam no Ceará. Os dados vêm do levantamento mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde. Nessa condição, a maioria das vítimas tinha entre 10 e 14 anos de idade.
De 2001 a 2014, porém, o Estado reduziu em 23% o número de crianças mortas por ano, de acordo com análises da ONG Criança Segura. A organização atua no país há 17 anos e alerta que a divulgação de informações, a implantação de políticas públicas e as mudanças de comportamento por parte de pais e responsáveis podem evitar grande parte dos acidentes.
As precauções a serem tomadas começam cedo, e o perigo pode estar abrigado até mesmo nos objetos mais inofensivos.
"É importante chamar a atenção para mães que colocam as crianças em andadores. Esse objeto é de extremo perigo, porque ele pode causar uma deformidade no quadril e nos pés da criança. Além disso, com o andador, a criança se desloca em uma velocidade muito grande, então mesmo que um adulto esteja vigiando, ele pode não conseguir alcançar a criança a tempo, então corre o risco de ela se chocar contra um móvel, rolar escada abaixo. Casos assim já foram atendidos no IJF", afirma Francielze Lavor.
A pediatra destaca, também, a atenção necessária durante a compra de brinquedos infantis. É preciso verificar a presença do selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que designa o brinquedo à faixa etária adequada. Peças muito pequenas podem ser ingeridas ou aspiradas pela criança, provocando asfixia ou outras consequências graves, incluindo a morte. O mesmo vale para pilhas, tampas de caneta e pequenos alimentos, como grãos de milho e feijão.
Apesar da impressão de segurança transmitida pelo lar, devido à proximidade com a família, os riscos de acidentes ainda são constantemente presentes.
Nos cuidados específicos a serem tomados dentro de casa, segundo a pediatra, é recomendado não posicionar móveis próximos à janelas, sobretudo as que não possuam rede de proteção ou grade, uma vez que crianças podem escalar o móvel, alcançar a janela e cair. "Também é frequente a criança escalar um móvel em casa que tenha uma televisão em cima, aí o móvel vira e tudo cair por cima dela. Isso ocasiona traumatismos mais graves por conta do peso que cai sobre a criança", explica.
Cuidados
Ainda em relação à mobília das casas, as quinas dos móveis devem ser arredondadas para evitar cortes e outros ferimentos caso uma criança esbarre. Se as quinas forem pontiagudas, recomenda-se o uso de protetores de silicone, para amenizar os danos de possíveis acidentes.
Substâncias como inseticidas e materiais de limpeza devem ser trancadas em um armário alto, para dificultar o acesso. Para evitar choques elétricos, é recomendado manter as tomadas firmemente protegidas.
Por ocorrerem de forma rápida e silenciosa, afogamentos são a segunda maior causa de morte de crianças, representando 25% dos casos no Ceará em 2015. "As crianças que se afogam geralmente não estavam sendo vigiadas. Em um churrasco de família, por exemplo, um adulto acha que outro está tomando conta, mas na verdade ninguém está de fato prestando atenção nas crianças. Elas podem cair acidentalmente na piscina, em uma parte funda. É preciso que os responsáveis estejam sempre atentos", ressalta Francielze Lavor.
Como forma de reforçar a campanha para a prevenção de acidentes com crianças de até 14 anos, a ONG Criança Segura disponibilizou em seu canal no YouTube uma série de vídeos intitulados "Um Olhar Muda Tudo", divididos por temas: um para cada fator de risco. É possível acessá-los através do endereço youtube.com/criancasegura.
Fonte: Diário do Nordeste