As consequências da disputa entre as facções criminosas chegaram às escolas públicas do Ceará. Desde essa quarta-feira (27), a rotina dos alunos que estudam em instituições no bairro Cristo Redentor mudou. Segundo informações de moradores da região, após ameaças feitas por quatro suspeitos, alunos de quatro escolas foram proibidos de entrar nas escolas. Caso descumprissem a determinação, haveria confronto.
O objetivo dos criminosos com o "toque de recolher" era selecionar quem deveria ou não ter o direito a estudar nos colégios públicos do Cristo Redentor. Para eles, assim como integrantes de facções rivais não convivem amigavelmente entre si, não deve haver "mistura" entre os estudantes. Uma das escolas onde aconteceu as intimidações fica em frente ao 5º Batalhão de Policiamento Militar (BPM).
Ontem, a PM esteve dentro de dois colégios do bairro: na Escola Estadual de Educação Profissional Marvin (EEEP) e na Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental (Emeif) Virgílio Távora. Equipes compostas por quatro policiais armados faziam a segurança interna das instituições, na tentativa de garantir que as aulas acontecessem. Conforme um dos PMs, os servidores foram escalados em regime de plantão e a Força Tática estava saturando a área.
Além das escolas Marvin e Virgílio Távora, a reportagem esteve nas escolas municipais Santa Tereza e Sebastiana Aldigueri, que, conforme apurado, também tiveram alunos ameaçados. Apesar de as aulas não terem sido suspensas em nenhuma das instituições citadas, funcionários das quatro unidades confirmaram que houve redução da frequência dos alunos, após a propagação das ameaças.
Uma professora da escola Sebastiana Aldigueri, que optou por não se identificar, contou que servidores, pais e alunos estão com medo. Segundo ela, a intimidação foi informada pelos próprios estudantes.
Ontem, por meio de uma rede social, o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, divulgou que a Polícia não vai admitir criminosos querendo ditar regras em escolas. O secretário ressaltou que, na última quarta-feira, esteve pessoalmente no bairro Cristo Redentor e que uma operação foi realizada.
"Demos o devido recado: ocupação na área, informando que se continuarem nós não sairemos de lá, o 'acocho' será grande", afirmou Costa se referindo à intensificação do trabalho nos próximos dias. Em nota, a Pasta informou que o tenente coronel Lourival Cordeiro Lima, que comanda o policiamento na Área Integrada de Segurança (AIS) 8, onde está o Cristo Redentor, garantiu que o patrulhamento no local não têm prazo para acabar.
Investigação
A Polícia Civil está investigando os supostos responsáveis pelas ameaças nos colégios do bairro Cristo Redentor. Conforme o delegado titular do 7ºDP (Pirambu), Paulo André Cavalcante, as apurações estão voltadas, especificamente, para as ameaças ocorridas nos colégios Virgílio Távora e Marvin. "A partir das informações das próprias escolas afirmando que uma facção não estava deixando os alunos entrarem, só deixavam se fosse do lado deles, começamos a investigar. Desde quarta-feira estamos trabalhando para pegar as pessoas que estão diretamente envolvidas nas importunações", disse Paulo André.
Conforme o delegado do 7ºDP, até o momento, quatro suspeitos das coações foram identificados. Entre eles, há adultos e adolescentes de uma determinada facção, cujo nome não foi revelado. Segundo Paulo André, as identificações dos envolvidos ainda não podem ser divulgadas para não atrapalhar o andamento das investigações.
Em contato com a Secretaria Municipal de Educação (SME), a reportagem foi informada que a SME está dando o suporte para facilitar o trabalho da Segurança Pública e que as aulas não devem ser suspensas.
Fonte: Diário do Nordeste
