O Ministério
Público Estadual do Ceará investiga se a morte de sete pacientes em uma clínica
de Iguatu, no interior do Ceará, foi uma consequência do uso de substâncias
fabricadas no laboratório que funcionava clandestinamente. Nesta segunda-feira
(26), a Polícia Civil prendeu em flagrante o responsável pelo local.
A Vigilância
Sanitária, o Ministério Público e a Polícia Civil estiveram nesta segunda-feira
(26), na clínica, onde destacaram diversas irregularidades, dentre as quais o
uso nos pacientes de Concentrado Polieletrolítico para Hemodiálise (CPHD)
produzido de maneira clandestina pela administração da clínica.
De acordo com o
promotor de Justiça Flávio Corte Pinheiro, calcula-se que, pelos menos, 150
pacientes que faziam tratamento regularmente três vezes por semana foram
medicados com a substância de procedência irregular.
"Sabemos
que um paciente renal-crônico já tem uma imunidade mais baixa, mas a aplicação
de uma substância fabricada ilegalmente nos preocupa sobre os possíveis motivos
da morte desses sete pacientes, por isso vamos continuar com as investigações",
diz o promotor.
A Vigilância
Sanitária havia realizado vistoria no local no dia 11 de maio, e constatou
diferenças no estoque de CPHD que não condiziam com a quantidade utilizada, uma
vez que fazia seis meses que a substância não era adquirida com os
fornecedores. Com isso, a Vigilância Sanitária notificou a clínica e, na defesa
apresentada, o administrador confessou que fabricava a substância ilegalmente
alegando dificuldades financeiras.
"Havia uma
discrepância muito grande entre a quantidade da substância que era utilizada na
clínica e a que eles pediram para o distribuidor oficial. Eles não faziam
pedidos desde novembro do ano passado, e o próprio fornecedor desconfiava da
quantidade pequena de insumos comprados pela clínica", conta Pinheiro.
Irregularidades
A princípio, a
substância em questão era produzida em um imóvel anexo à clínica. A manipulação
do medicamento era feito por uma pessoa sem formação nas áreas de Química ou
Farmácia e os recipientes utilizados não passavam por esterilização.
"Eles
disseram que já tinham parado a produção da substância, mas questionamos sobre
a máquina necessária para processar a substância e eles, a princípio, disseram
que tinha vindo para Fortaleza. Depois acabaram confessando que ela estaria em
outro terreno, e quando chegamos lá nos deparamos com um grande estoque pronto
para ser utilizado nos pacientes e a substância continuava sendo
produzida", relata o promotor de Justiça.
Além disso,
outras irregularidades foram verificadas na clínica. Um outro equipamento para
hemodiálise, denominado "capilar", deve ser descartado depois de
utilizado por um paciente com hepatite C, porém a clínica fazia o reúso. Além
disso, em pacientes que não são positivos para hepatite, o capilar pode ser
reutilizado até 20 vezes, mas a clínica excedia esse limite, sem fazer o
controle adequado. Materiais de uso hospitalar eram estocados de maneira
inadequada na clínica, em sala que apenas o administrador tinha acesso.
A clínica em
questão já possui mais de dez anos de existência. De acordo com o Ministério
Público, o médico responsável pelo estabelecimento encontra-se debilitado,
realizando tratamento contra câncer em Fortaleza, tendo deixado o filho
responsável pela administração da clínica. Os dois serão responsabilizados pelo
crime, assim como o suspeito que manipulava os medicamentos, que acabou fugindo
do local antes que fosse dada voz de prisão. O atual sócio-administrador
encontra-se preso.
Eles devem
responder pelo artigo 273 do Código Penal, que pune quem falsifica, corrompe, adultera
ou altera produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais com dez a quinze
anos de reclusão e multa.
Fonte: G1