"Faremos [o voo] em menos tempo, não se preocupe", disse, à funcionária do aeroporto de Santa Cruz de la Sierra, o despachante da companhia aérea boliviana LaMia que apresentou o plano de voo da aeronave que caiu com o time da Chapecoense. Ele se referia a uma contestação sobre se o combustível para a viagem seria suficiente para o voo entre Santa Cruz e Medellín.
A falta de combustível é a principal hipótese para o acidente, que matou 71 pessoas e feriu seis.
Conforme revelou o Jornal Hoje, Celia Castedo Monasterio, funcionária da Aasana (Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea da Bolívia), disse às autoridades que alertou o representante da LaMia de que a quantidade de combustível era insuficiente e que não seria possível chegar a outro aeroporto no caso de uma emergência. Ela o contestou a respeito.
Isso porque o despachante, funcionário de terra da LaMia, havia colocado no documento que a autonomia era de 4 horas e 22 minutos, exatamente o mesmo tempo previsto em rota. Pelas leis bolivianas, um avião precisa ter combustível suficiente para ir ao destino, depois a um aeroporto de alternativa e, por fim, ter mais 45 minutos de voo em altitude de cruzeiro. A LaMia previu um voo direto entre Santa Cruz e Medellín, com o aeroporto de Bogotá como alternativa.
O acidente ocorreu na madrugada de terça-feira. A aeronave, um Avro RJ-85, bateu em uma montanha ao ficar sem combustível a 17 km da pista do aeroporto José María Córdova, em Medellín. Das 77 pessoas a bordo, 71 morreram. Houve seis sobreviventes. A aeronave havia sido fretada para levar o time da Chapecoense para Medellín.
Em entrevista na quarta-feira (30), o secretário de Segurança Aérea da Colômbia, Freddy Bonilla, afirmou que os tanques da aeronave estavam vazios. E que o piloto chegou a declarar emergência por falta de combustível às 21h52 (horário local), 0h52 no Brasil. Áudio divulgado pela imprensa colombiana mostra o piloto apontando que havia tido uma "falha elétrica" e "total" momentos antes da queda.
Voo em menos tempo
Embora corresponda a uma infração às leis aeronáuticas, um avião pode fazer em menos tempo, e portanto, com menos combustível, um voo entre um local e outro. Depende se há vento de cauda, que faz o avião voar mais rápido, se não há espera no aeroporto de destino e das condições climáticas. Era nisso que a tripulação se fiava para chegar a tempo, mesmo sem a quantidade de combustível exigida pela norma.
"Mas nada justifica ter burlado os protocolos para fazer economia de combustível", disse o engenheiro aeronáutico Ricardo Chilelli. Um piloto de uma empresa aérea brasileira disse que, ao adotar o procedimento, o piloto se expôs a deixar o voo com uma margem muito pequena de combustível.
Fonte: G1