O corpo encontrado em decomposição dentro de um poste do Setor Jardim Europa, em Goiânia, foi identificado na tarde desta segunda-feira (21).Trata-se de Dagoberto Rodrigues Filho, de 68 anos, que estava no Instituto Médico Legal (IML) e foi identificado por papiloscopistas da Polícia Civil. A família da vítima informou ao G1 que ele foi carpinteiro, mas deixou de trabalhar devido a um transtorno mental e costumava passar vários dias fora de casa.
A identificação foi feita por meio de análise de digital. O corpo seguia no IML, até as 18h, pois familiares ainda estão organizando todos os documentos necessários para fazer a liberação.
Filha da vítima, a auxiliar de contabilidade Adriane Rodrigues, de 36 anos, disse ao G1que o pai morava com ela, a mulher e o neto no Setor Aeroporto Sul, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana. Segundo ela, o pai sempre trabalhou como carpinteiro, mas há cerca de 17 anos começou a ter problemas mentais.
"Ele fazia acompanhamento psicológico, mas não consegui internação para ele. Às vezes, ele saía e ficava até cinco dias sumido, mas sempre voltava ou dava um jeito de ligar para a gente buscar", disse ao G1.
No último dia 7 de novembro, Dagoberto voltou a sumir, mas, diferente das outras vezes, não entrou em contato. A família começou a procurar e ir a clínicas e hospitais, mas não conseguiu nenhuma informação sobre ele.
Adriane resolveu pedir ajuda nas redes sociais. A família havia morado por 26 anos no Jardim Europa, bairro onde o corpo foi encontrado. Uma antiga vizinha viu as fotos na web e ligou para a auxiliar afirmando que um cheiro muito forte vindo de dentro do poste que estava no canteiro central.
Naquele momento, a filha se lembrou de algo que o pai uma vez lhe disse. "Das vezes em que ele saía, eu perguntava onde ele dormia, que não precisava daquilo. E uma vez ele confessou que já tinha dormido dentro daquele mesmo poste. Na hora, me deu aquele estalo", revela.
No entanto, a filha e a polícia não souberam dizer como Dagoberto entrou no poste.
Adriane então esteve no local e acompanhou parte do trabalho feito pelos bombeiros, que tiveram de serrar o poste. Nesta manhã, esteve no IML com toda documentação do pai, mas, ainda assim, não foi possível a identificação. O órgão só confirmou a identidade após análise de digitais.
Pelo estado do corpo, não será possível fazer velório. De acordo com Adriane, o pai será enterrado na terça-feira (22), por volta das 9h, no Cemitério Vale da Paz, em Goiânia.
Investigação
O corpo foi achado dentro do poste na noite de domingo (20), no canteiro central da Avenida Viena, no Jardim Europa, região sudoeste da capital. Segundo o delegado Francisco Costa Júnior, que esteve no local, o poste é usado em redes de alta tensão. Como ele é oco, possui uma abertura embaixo. "O poste estava deitado no canteiro central. Agora, como essa pessoa entrou lá dentro, eu ainda não sei", disse.
De acordo com a Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), o caso será investigado pelo delegado Danilo Proto, a partir da terça-feira.
Há alguns dias, moradores da região já tinham acionado os bombeiros diante do cheiro forte nas imediações onde o poste estava. Geralda Aparecida da Silva, dona de uma pamonharia que fica em frente ao local onde o corpo foi encontrado, conta que os fregueses do restaurante já estavam reclamando do mau cheiro. "Muito ruim. Um cheiro muito forte que incomodava bastante", disse.
Rede de alta tensão
O poste onde o corpo foi encontrado é um dos que estão deitados nos canteiros centrais de várias vias da região sudoeste de Goiânia. Eles foram deixados no local há quase 3 anos para serem instalados nas obras de expansão de uma rede elétrica de alta tensão, pela Companhia Energética de Goiás (Celg).
A estatal federal Eletrobras suspendeu a obra há 2 anos, depois que um relatório do Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) apontou várias falhas no projeto de implantação da rede. Agora, os moradores do bairro lutam para que as estruturas sejam retiradas.
A Celg informou que ainda não tirou os postes do local porque espera a obtenção do alvará de construção e renovação da licença ambiental da Prefeitura de Goiânia para, então, continuar as obras de implantação da linha de alta tensão. De acordo com a companhia, o sistema é “imprescindível” para a melhoria do sistema e atendimento aos próprios moradores.
A comerciante Soraia Petroni denuncia que o lugar tem sido usado por traficantes de drogas. “Isso daqui já é um ponto de drogas, a gente vê pessoas deixando coisas aí dentro. De repente, passa outra pessoa e pega. Isso daqui já virou um ‘aviãozinho’ do Parque Anhanguera”, reclama.
O comerciante Flávio Ferreira é dono de uma loja que fica bem próximo aos postes. Ele afirma que a morte é um dos vários problemas vividos pela população local. “Está aqui abandonado, a Celg deveria, se tivesse um cuidado maior, esta morte e outras coisas não teriam acontecido”.
Fonte: G1