O Ceará é o estado do Nordeste com a maior quantidade de suicídios. Com 533 casos registrados em 2015, o Estado teve umcrescimento de 9,2% em relação a 2014, quando 488 pessoas tiraram a própria vida. Se a análise levar em conta as taxas de ocorrências por 100 mil habitantes, o Estado permanece no topo do ranking, com seis casos. A média nacional é de 4,2 por 100 mil habitantes, conforme o 10º Anuário Sobre Segurança Pública.
De acordo com o psiquiatra do Hospital Universitário Walter Cantídio e coordenador do Programa de Apoio à Vida (Pravida), Fábio Gomes de Matos e Souza, o número aumentou em todo o Brasil, mas esse acréscimo foi maior no Ceará em decorrência de existir aqui maior desagregação, desestruturação familiar, abuso de álcool e droga e pela falta de estrutura da rede de saúde para tratar transtornos associados ao suicídio.
“São dois grandes grupos preditores do suicídio: os que tentaram prévia e os portadores de transtornos mentais. Os cinco principais transtornos mentais associados ao suicídio são: depressão, transtorno bipolar, abuso de álcool e outras drogas, esquizofrenia e transtorno de personalidade, principalmente o borderline. Se há uma falha no sistema, se não há medicação e terapia, há uma agravamento desses transtornos. Fica crônico e muitas vezes o paciente vê nisso a única saída”, explica Fábio, que também é professor Titular de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Perfil
O especialista aponta que o suicídio acontece em todas as classes sociais e em idades, mas que há um aumento entre mulheres jovens. Há ainda que se destacar que a organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que 90% dos casos são evitáveis, o que reforça a necessidade de se olhar com cuidado para o dado. “Se não houver uma mudança na rede, se não colocarmos proteção em pontes e viadutos, aumentarmos o controle de receitas e proibir a venda de chumbinhos, esses números vão aumentar”, alerta.
No Ceará, o atendimento ao suicida acontece nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS). Na Capital, são 14 (sendo seis Álcool e Droga, seis gerais e dois infantis). O Projeto de Apoio À Avida (Pravida), coordenado pelo professor Fábio Gomes, é uma das iniciativas com o foco à assistência terapêutica e prevenção a pessoas que tentam suicídio.
Com 12 anos de existência, o projeto atende por semana de 25 a 30 pacientes. Com o máximo de 12 sessões com alunos capacitados, a intenção é ter tempo de amenizar a crise do paciente e encaminhá-lo para outros serviços e garantir continuidade do trabalho. “É um número muito pequeno diante de uma população de Fortaleza com 2,5 milhões de habitantes”, conlui.
Outro serviço existente é do Centro de Valorização à Vida (CVV), organização que tem como missão a prevenção do suicídio. A unidade de Fortaleza existe há 30 anos e conta com 32 voluntários no atendimento telefônico de pessoas com problemas emocionais.
Fonte: Diário do Nordeste