Na propaganda eleitoral da TV, você acredita mais nas informações narradas por uma mulher ou por um homem?
Uma pesquisa feita com eleitores nos EUA sobre o que eles acham dos anúncios dos candidatos mostra que o gênero da voz é capaz de influenciar seu voto. E, apesar de a voz masculina ser a mais usada em campanhas, a voz feminina é considerada mais eficiente para convencer eleitores em certos contextos.
A pesquisa feita pela Universidade de Albany, em Nova York, reuniu dados de entrevistas feitas com 80 mil pessoas para avaliar a credibilidade das propagandas políticas. Os entrevistados listaram os temas que aparecem nas campanhas políticas em ordem de importância e os relacionaram com o gênero das vozes, sinalizando o quão confiáveis elas eram.
A partir desses dados, os pesquisadores perceberam que as vozes são na maioria das vezes associadas a estereótipos ligados ao homem e à mulher: o masculino seria mais assertivo, e o feminino, mais passional.
Assim, há predomínio da voz masculina em anúncios sobre segurança, economia e política externa, enquanto a voz feminina está presente em assuntos como educação.
As vozes masculina e feminina são também vistas como confiáveis quando utilizadas de acordo com o estereótipo a que estão associadas.
Segundo Patricia Strach, uma das autoras da pesquisa, a voz das mulheres é mais utilizada em anúncios nos quais se faz comparações entre candidatos e em temas negativos. A explicação estaria no fato da voz feminina suavizar esses discursos, deixando eles mais aceitáveis.
As pesquisas também indicam que as vozes femininas são mais eficazes em contextos neutros e podem ser utilizadas por candidatos homens e conservadores com o objetivo de ampliar seu eleitorado --mas, nestes casos ela ainda é pouco empregada, aparecendo em cerca de metade do espaço destinado à voz masculina.
"É um paradoxo estranho", diz Strach, sobre a maior presença masculina nas propagandas e a efetividade maior da voz feminina em determinados contextos.
O predomínio da voz masculina estaria ligado a um aspecto cultural não só dos EUA, mas também do Brasil e de diversos outros países.
"Numa cultura patriarcal, normalmente se opta pela voz masculina", diz Carlos Augusto Manhanelli, jornalista especializado em marketing político.
Contudo, para o especialista, isso tende a mudar. "O Brasil caminha para uma cultura mais liberal nesse sentido de gênero. Mas [o machismo] ainda está arraigado", diz ele.
Segundo Manhanelli, tem ocorrido uma maior divisão entre vozes masculinas e femininas nas propagandas na TV, e a explicação estaria na cópia de um modelo que se tornou predominante no noticiário televisivo.
"As campanhas precisam de credibilidade, e usam formato já consagrado, que são o dos telejornais, apresentados por um homem e uma mulher", diz.
Fonte: UOL