O Ceará enfrenta a pior seca
das últimas cinco décadas. Já são cinco anos consecutivos de chuva abaixo da
média. Trinta cidades enfrentam atualmente restrição de abastecimento de água,
conforme a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). São mais de 746 mil
moradores afetados. O número pode ser maior porque há cidades com sistema
administrado por Serviços Autônomos de Água e Esgoto (SAAE).
Onde
captar água para tratar e distribuir aos moradores das áreas urbanas? A maioria
dos açudes e poços está secando. Dos 153 reservatórios monitorados pela
Companhia de Gestão dos Recursos Hidrícos (Cogerh), 124 estão com volume abaixo
dos 30%. A criticidade é tamanha que atividades simples, como lavar louça ou
roupas, se tornam complicadas para famílias dos centros urbanos.
"Faz
muito tempo que eu não sei o que é lavar uma louça com a água escorrendo da
torneira", conta a agricultora Maria Aparecida Custódio, residente na
cidade de Salitre. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, parte da
população do Município, com pouco mais de 16 mil habitantes, "nunca teve
água encanada nas casas". A cidade é uma das 30 que atualmente enfrentam
problema de restrição de abastecimento de água.
Em
Acopiara, na região Centro-Sul do Ceará, os moradores enfrentam irregularidade
no sistema de abastecimento há pelo menos 60 dias. Bairros da periferia e áreas
mais elevadas são as que mais sofrem com a escassez. É preciso acordar cedo ou
esperar à noite pela chegada da água nas torneiras.
A
adutora do Açude Trussu, em Iguatu, inaugurada em dezembro de 2013, não dá
vazão suficiente para atender a demanda de Acopiara. É preciso ampliar a rede
de canos por um diâmetro maior. O agricultor Roberto Freitas, morador do bairro
Moreira, lembra que a água demora a chegar nas torneiras. "A gente já
passou três, quatro dias, sem água". A queixa é geral. Quem não tem caixa
elevada ou outro reservatório em casa, enfrenta maiores transtornos.
Uma das
piores crises de desabastecimento do Interior do Ceará ocorre no Sertão Central
e é enfrentada pelos moradores de Boa Viagem. Duas dezenas de carros-pipa captam água em Tauá e de Independência, percorrem
mais de 100 Km para tentar amenizar a escassez na área urbana. "Os açudes
que abasteciam a cidade secaram e os poços profundos não apresentam
vazão", disse o coordenador da Comissão Municipal de Defesa Civil (Cedec),
Marton Carvalho.
A água
é despejada em cisternas e os moradores fazem fila e tentam desesperadamente
encher baldes e latas. Em Boa Viagem, o sistema de abastecimento fica sob a
responsabilidade do SAAE. "A situação é de desespero, é uma
tragédia", disse Carvalho. O esforço é para atender nove mil moradores,
mas a cidade tem 31 mil.
Segundo
o superintendente da Cagece, Jacinto Leal, nas cidades em situação mais
crítica, o órgão tem realizado ações em parceria com a Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh) e a Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra).
Ele destacou a instalação de adutoras de montagem rápida, perfuração de poços
ou abastecimento por carro-pipa como alternativas. No ano passado, mais de 850
poços foram perfurados.
O
superintendente explica que, no período de contingência, a população chega a
ficar sem água por até quatro dias. "Depende da cidade. Algumas recebem
água dia sim, dia não. Outras, a cada dois dias e, em casos extremos, quatro dias.
Ele ilustra que, em situações normais, a média de consumo por pessoa é de 150
litros/dia. Em emergência, cai para 30 l/dia.