O PMDB, partido do
vice-presidente Michel Temer que conta com as maiores bancadas na Câmara e no
Senado, anunciou, ontem, que deixou o governo federal, em uma decisão que
aumenta o risco da aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff e pode
desencadear uma debandada de outros integrantes da base.
O
desembarque do PMDB da base governista é o mais duro revés já sofrido por Dilma
em seus quase cinco anos e meio na Presidência. A petista é alvo de pedido de
abertura de processo de impeachment que tramita em comissão especial na Câmara
e enfrenta uma das piores recessões econômicas em décadas, além de baixos
níveis de popularidade.
"A moção está aprovada. A
partir de hoje, nessa reunião histórica para o PMDB, o PMDB se retira da base
do governo da presidenta Dilma Rousseff. E ninguém no País está autorizado a
exercer qualquer cargo federal em nome do partido PMDB", declarou o
senador Romero Jucá (PMDB-RR), que comandou a reunião do diretório nacional do
partido em Brasília.
Decidido
em meio a palmas, gritos de "Fora PT" e "Temer presidente",
o desembarque pode disparar um efeito dominó em outras legendas aliadas,
enfraquecendo ainda mais o governo. O PMDB decidiu entregar todos os cargos no
governo federal e realizar processo no Conselho de Ética da legenda contra os
filiados que não deixarem seus postos no governo. Além do vice, integram o
governo pelo PMDB mais seis ministros - na segunda-feira, Henrique Eduardo
Alves foi o primeiro peemedebista a deixar o ministério ao pedir demissão do
comando da pasta do Turismo.
A
decisão do partido, porém, definida em três minutos por aclamação, reflete a
maioria, mas não a totalidade do partido. Embora tenham assinado presença mais
de 100 integrantes da sigla, peemedebistas mais identificados com o governo não
compareceram à reunião, caso do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani
(RJ), do presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (AL) e parte
da bancada liderada pelo senador Eunício Oliveira (CE).
'Início do fim'
Para a
oposição e os que defendem o impeachment de Dilma, a decisão do PMDB consolida
o processo. O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), avaliou que a saída é o
"início do fim" do governo. Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG),
presidente nacional do partido, a ruptura "fecha a tampa de um caixão de
um governo moribundo".
Caso a
Câmara aprove a abertura de processo de impedimento contra a presidente e a
decisão for confirmada pelo Senado, com a instauração do processo, Dilma terá
de se afastar do cargo e Temer assumirá a Presidência interinamente. Se o
Senado decidir cassar o mandato da petista, o vice será efetivado no cargo.
Para o
segundo-vice-presidente da sigla, Eliseu Padilha, a relação entre Dilma e Temer
será institucional "como sempre foi".
Planalto
Em ataque
declarado ao antigo aliado, o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence
(BA), acusou o que considera um "golpe em curso" e referiu-se a Temer
como uma pessoa que "posava de jurista e agora é golpista". O
ministro-chefe do gabinete pessoal da presidente, Jaques Wagner, afirmou que o
vice Michel Temer poderá ter mais dificuldade caso venha a assumir a
Presidência, porque não tem a "legitimidade do voto".
Avisada
de que a debandada do partido comandado por Temer poderia provocar "efeito
dominó" na coligação, com fuga de outros aliados, Dilma fez reuniões de
emergência ao longo do dia. Ela conversou com os ministros Gilberto Kassab
(Cidades), do PSD; Antônio Carlos Rodrigues (Transportes), do PR; e com o líder
do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), e pediu que os partidos a ajudassem a
derrubar o processo de impeachment na Câmara. Kassab disse que o PSD está
dividido e por isso a direção liberou os votos dos deputados. O PR também foi
na mesma linha.
Ministros
Para os
próximos dias, o governo aguarda os pedidos de demissão de Mauro Lopes
(Secretaria de Aviação Civil), Hélder Barbalho (Secretaria de Portos), e de
Eduardo Braga (Minas e Energia). Espera-se que fiquem Marcelo Castro (Saúde),
Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), e Kátia Abreu (Agricultura). Jaques
Wagner afirmou que nenhum dos ministros do PMDB procurou Dilma à tarde.
Ontem,
a presidente decidiu cancelar a viagem que faria aos Estados Unidos amanhã para
participar da 4ª Cúpula Sobre Segurança Nuclear, que acontecerá em Washington.
O cancelamento da viagem evitará que Temer, principal articulador do
rompimento, assuma o comando do País por dois dias. De acordo com a
Constituição, o vice-presidente assume a Presidência sempre que o titular sai
do território nacional.
Fonte: Diário do Nordeste