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quinta-feira, 31 de março de 2016

Governo faz 'varejão' de ministérios do PMDB

Um dia após o rompimento do PMDB com o governo, a equipe da presidente Dilma Rousseff passou a oferecer ministérios que hoje estão nas mãos de peemedebistas para partidos como o PP e PR, na tentativa de conseguir votos nessas legendas para barrar a abertura de processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
Ao PP, o governo ofereceu o Ministério da Saúde, hoje sob o comando de Marcelo Castro (PMDB-PI). Ao PR, o Ministério de Minas e Energia, que ainda está sob o comando de Eduardo Braga (PMDB-AM). 

A ofensiva do Planalto despertou críticas mesmo nas alas mais moderadas do PMDB, que acusaram a presidente de estar promovendo uma "liquidação do Estado". Em defesa da estratégia, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, afirmou que trocas de cargos "ocorrem 365 dias por ano em um governo federal", acrescentando ainda que "não existe espaço vazio na política".

A intenção de entregar a Saúde ao PP, por sinal, acabou revelando um acordo informal que o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), havia feito com o governo de, mesmo com o rompimento, dar até 25 votos para barrar o impeachment.
Picciani, ao saber da decisão do Planalto de tirar seu aliado Marcelo Castro da Pasta, disse que romperia o acordo informal com a presidente Dilma.
O desconforto com a negociação aumentou depois que a ministra Kátia Abreu (Agricultura), amiga da presidente, foi flagrada enviando mensagens nas quais assegurava que todos os seis ministros do PMDB que ainda estão no governo não deixariam seus cargos. No texto, a ministra dizia que ela e os demais nomes se licenciariam da legenda para apoiar Dilma e que a decisão havia sido tomada na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
"Continuaremos no governo e no PMDB. Ao lado do Brasil no enfrentamento da crise. Deixamos a presidente à vontade caso ela necessite de espaço para recompor sua base. O importante é que na tempestade estaremos juntos", escreveu a ministra na rede social Twitter.
Negação
Renan, por sua vez, disse que não havia se manifestado nem sobre a nomeação dos ministros, que dirá sobre a exoneração. O estatuto do PMDB não prevê a licença de filiados. A sigla avisou que, com a opção pelo desembarque, os que contrariarem a norma estarão sujeitos a processo no Conselho de Ética.
Na tentativa de alinhavar um discurso, os seis ministros do PMDB reuniram-se ontem com a presidente. Ao menos três deixaram claro que não tinham condições de ficar contra o partido e o melhor seria a presidente usar seus cargos para atrair aliados. Dilma disse que se reuniria com o ex-presidente Lula para tomar uma decisão final.
Com a entrada de Lula, no fim da noite de ontem, aliados de Eduardo Braga (Minas e Energia) e Helder Barbalho (Portos) passaram a afirmar que eles poderiam continuar nas pastas. Em relação ao PSD, do ministro Gilberto Kassab (Cidades), a intenção da presidente é reabilitar como ministro Guilherme Afif Domingos, que preside atualmente o programa Bem Mais Simples Brasil e o Sebrae. A pasta que será entregue não foi definida.
Ontem, o Planalto oficializou a saída de George Hilton (Pros) do Ministério do Esporte. Assume a pasta interinamente o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser (PC do B).

A eficácia do "varejão governista" ainda é vista com reserva. PP e PR avaliam decidir apenas no dia 11 de abril, véspera da votação do pedido de impeachment na Comissão Especial da Câmara, se ficam ou não no governo. Nas contas do Planalto, o governo tem hoje 136 votos contra o impeachment. Por isso, busca adesões para obter os 172 votos que podem barrar o pedido de afastamento da presidente.