Se você
já ficou fazendo zoada na calçada da Detinha ou já ouviu falar no Baile do
Boião, essa notícia lhe pertence. A seguir, 11 peculiaridades de Acopiara que
você precisa saber:
1 – A Terra
do Lavrador é um daqueles municípios sertanejos, pacatos, receptivos e também
sofredores da falta d’água. A nossa gente – sim, sou mais de lá do que de
Iguatu, onde nasci -, arranjou um jeito bonito de receber a chuva. A festa é
sempre grande quando a barragem sangra. De tanta alegria, não há quem resista
tomar banho na parede da barragem, mesmo com a forte correnteza. A raridade do
evento é grande, muito grande. Em 33 anos de vida, tenho lembranças contadas em
apenas uma das mãos.
2 – Começam
com “a”, terminam com “a”, têm quase a mesma fonética e escrita. Mas não é
Aracoiaba. É Acopiara. Não rara é confusão Ceará afora. Mas quando tinha forró
na Quadra da Vó ou no Clube Social, ai-ai-ai do cantor que trocasse o nome.
“Sai daí, doido!” era talvez o que corresse na cabeça do público, trabalhado no
gel no cabelo, melhor roupa e perfume.
3 – Quem
recebe e se despede pessoalmente dos visitantes é a própria padroeira da
cidade, a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Fica ali no topo do Arco da Santa,
vendo tudo que passa, cupistas e caminhantes, casais moteleiros e viajantes,
aventureiros e foliões carnavalescos. Está lá, como uma câmera de TV na
Sapucaí. Tem gosto e desgosto, mas é cultuada na esperada Festa da Padroeira,
onde vertentes políticas aproveitam a quermesse para disputar uma galinha
caipira por módicos R$ 100 ou R$ 200.
4 – Se você
está na casa dos 30 vai se lembrar que o Centro Social, ao lado da Curva da
Morte, já se transformou em cinema. As exibições eram épicas. Titanic foi uma
delas. Quando a produção hollywoodiana já saíra das salas de cinema das grandes
cidades, havia chegado pra gente. Espaço lotado e quente, com acústica
agoniante e uma gritaria a cada emoção. Não faltaram, claro, os gaiatos com
gritinhos e piadinhas. Nada mais era que a ansiedade e secura na boca da emoção
causada pelo cinema. Antes do cinema, arrodear a igreja matriz era o hábito.
Meninas no sentido horário e meninos no sentido anti-horário. Tudo calculado
para se cruzarem e paquerarem por trás da igreja.
5 – Em
Acopiara, existe a cidade de São Paulo fora do estado de São Paulo. Na verdade,
um distrito, carinhosamente chamado de São Paulinho ou gaiatamente batizado de
São Paulo “dur mulambu”. É um simpático vilarejo dentro do município. Aliás,
você não sabia, mas são de lá Cleópatra, Nabupolazar e Nabucodonosor. Também
têm origem lá Sétura, Agarista, Gefon, Keren Apuk, Atália, Acsa, Resfa, Nédima
e Selomite. São todos da família Feitosa. Mais de 100 pessoas receberam nomes
de reis, rainhas e deuses. Duvida? Olha aí no blog
http://saopaulinhoacopiara.blogspot.com.br. Só tem lá também a Corrida São
Silvestrinho. Legal, não é?
6 – Acopiara
é a Meca do Teatro no Interior. Lá surgiu o Festival de Teatro de Acopiara
(Fetac), que já promoveu mais de vinte edições de muitos espetáculos e formação
teatral.
7 – Avenida
tem mais de uma. Mas, na verdade, só tem uma. É onde acontecem os encontros, os
festejos, as bebências, os desafetos, as paqueras, os desfiles de carro, os
paredões de som. De todos os cantos da cidade, sábado é dia de perguntar: “vai
pra avenida”. Refere-se à Avenida Paulino Félix. Lá também tem um lugar único
no mundo. A Calçada da Detinha, assim em nome próprio. Porque é um espaço amplo
e estrategicamente localizado, com visão privilegiada pra quem está arrodeando do
Polo de Lazer. Mas já foi palco de desavenças com a moradora da casa, que
sofria com o barulho dos jovens na calçada.
8 – O açude
conhecido como Boca de S é lendário. Se prestar bem atenção, nunca estava
vazio, mesmo em tempos de seca de caminhão pipa. Mas ninguém tomava banho no
local. A lenda urbana – ou realidade mesmo -, é que um hospital despejava seus
dejetos no lugar. Será?
9 – O Baile
do Boião já ganhou reconhecimento nacional. São dias em que dizer que é corno
não faz vergonha. Grandes redes de TV já fizeram a cobertura da festa, que teve
início quando o pai traiu o próprio filho, ficando com a namorada dele. Não é
bem um orgulho local a história, mas pelo menos não é fama para o ano inteiro,
como é, por exemplo para o Bairro José Walter, em Fortaleza.
10 – A
integração multimídia já havia começado em Acopiara faz tempo. Isso em um
evento que marcou gerações. Era o Tooooooque Daaaaaance. A festa começava, na
verdade, dentro da programação de uma rádio no quadro “De quem pra quem”. Os
moradores mandavam recadinhos para encontrar o par em um lugar antes de ir pra
festa. “De um alguém na Vila Esperança para Cleide no bairro Moreiras. Cleide,
te espero por trás da pracinha. Te quero!”, dizia-se. No evento, um DJ
comandava a balada, com pedidos do público e mais recadinhos.
11 – Depois
de cortar o cabelo no salão do França e Guena, passei na Praça da Matriz pra
ouvir a seresta dos Irmãos Melodia, em frente onde morou o saudoso e eterno
Padre Crisares, nas calçadas onde muito bebeu o onipresente Nó Cego e a coitada
da Dezinha. Se está bem iluminado, foi o palhaço-eletricista-faz-tudo Batata.
Ficou para o fim a melhor parte. Vou ali na rodoviária comer uma panelada e
curtir o friozinho da madrugada do sertão, coisa que aposto que nenhuma cidade
no mundo faz.