A carioca Mirian França de Melo, 31, está há uma semana presa temporariamente na Delegacia de Capturas (Decapol) de Fortaleza, suspeita de participar do assassinato de gaia Molinari, 29.. Inicialmente na condição de testemunha, a 'amiga' da turista italiana apresentou versões contraditórias e teve prisão decretada, mas a decisão é contestada pelos familiares e militantes do movimento negro.
Em nota compartilhada nas redes sociais, a família de Mirian defende que a prisão é injusta e classicista. “Não é ela que tem provar inocência, mas a Polícia que tem que provar que é culpada. Mirian só está presa porque é negra e pobre. Ela não tem nenhum antecedente criminal. Estava tranquila no decorrer do processo e chegou a nos relatar sobre as suspeitas que a polícia tinha”, informa a família.
Estudante de doutorado no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Mirian morou no alojamento para alunos de baixa renda até os 29 anos. No relato das redes sociais, há a informação de que Gaia não era amiga de Mirian, mas uma companheira de viagem.
As contradições não são motivo para prisão, conforme o advogado Humberto Adami, representante da família e militante do movimento negro. “Mirian tem emprego e endereço fixos, além de fazer doutorado na UFRJ. A intenção é entrar com pedido de habeas corpus ainda nesta semana”, explica.
No Facebook, a página “Liberdade para Mirian França Justiça para Mirian Justiça para Gaia’’ já possui 4.019 curtidas. “Turistas são comumente associados a pessoas de pele clara, na maior parte das vezes estrangeiras. Criminosos [são associadas] a pessoas de pele escura, na maioria das vezes pobres e de periferias”, diz outro trecho da página.
Nenhum detalhe sobre as versões dadas pela farmacêutica foi fornecido pela Polícia, mas a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) fará, na tarde desta segunda-feira, 5, uma coletiva de imprensa sobre a prisão. Mirian França foi encontrada pela Polícia na praia de Canoa Quebrada, no Litoral Leste, para onde viajou após prestar o depoimento do dia 26.
Ela foi levada novamente até Jericoacoara, onde teve a versão contestada por outras testemunhas. “A Mirian não sustentou o que disse, nem informou porque mentiu. Tentou induzir as investigações para outros suspeitos. Decidimos garantir que ela fique no Estado até a conclusão das investigações”, explicou a delegada Patrícia Bezerra, responsável pelo caso.
“Fica fácil culpar a neguinha’’
Moradora da Baixada Fluminense (RJ), a mãe de Mirian, Valdicéia França, 63, disse aguardar notícias da filha. No último sábado, 3, ela concedeu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, onde afirmou que a prisão era racismo. “Se fosse minha filha morta, será que a italiana estaria presa? Os policiais viram uma neguinha, pobre, turista e ficou fácil colocar a culpa nela", afirmou.
Valdicéia disse também não ter perspectiva de ver a filha por falta de recursos financeiros, mas está contando com a ajuda da Defensoria Pública do Ceará. A orientadora de Mirian na UFRJ, professora Maria Bélio, informou que a universidade também está em contato com defensores públicos de Fortaleza. A prisão temporária tem validade de 30 dias, prorrogáveis por mais 30, por se tratar de crime hediondo