Amada e odiada por muitos a maconha segue no centro de discussões acaloradas pelo mundo todo. Vozes se elevam dos dois lados da questão, contrárias e favoráveis ao uso da substância, seja ele recreativo ou medicinal.
Mas, ao menos na forma de remédio, a erva parece próxima de sair dos porões da proibição. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou recentemente que deve reclassificar como medicamento o CBD (canabidiol).
Durante audiência pública na Câmara dos Deputados, realizada no último dia 18, o presidente substituto, Ivo Bucaresky, disse que a agência estuda mudar o CBD da lista F1 (substâncias proibidas) para a lista C1 (de remédios controlados).
Segundo o órgão informou à reportagem do Metro Jornal, o tema está em discussão e aguarda deliberação da diretoria, mas não há prazo para que isso ocorra.
Presente na folha da maconha (Cannabis Sativa), o CBD tem sido usado no tratamento de doenças graves, como síndromes raras epilépticas, entre outras. (veja no quadro ao lado).
A pressão sobre a Anvisa vem justamente de um grupo de pais que defendem o acesso desse medicamento para seus filhos. São casos como o de Katiele Bortoli, mãe da pequena Anny Fischer, de 5 anos, que enfrentava 80 crises convulsivas por semana, que somente foram controladas nove semanas após receber o medicamento à base de maconha, comprado no exterior por ser ilegal no Brasil.
Anny foi a primeira no Brasil a obter autorização para usar o CBD, e virou símbolo de uma luta contra a ilegalidade do medicamento. Margarete Brito, mãe de Sophia, que sofre da mesma doença de Anny, conhece o drama. “Somos famílias em busca de uma luz no fim do túnel”, disse.
Segundo Elisaldo Carlini, médico e pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), “leis e burocracias travam estudos sobre a droga”. Precursor no estudo da Cannabis, há 40 anos, já realizou uma investigação sobre o CBD para convulsão. “Notamos efeitos positivos”, relata.
O médico lamenta pesquisas paradas por entraves burocráticos. “Queríamos testar o Sativex (mistura de THC e CBD)”. Um laboratório cedeu a droga, mas está retida na alfândega. “É um desrespeito à universidade e à ciência”, reclama.
A Anvisa informou, via assessoria, que “a maconha consta como proscrita por força de legislações que ultrapassam a competência da agência, que não recebeu pedido de registro de produtos, e que, por isso, “não possui um universo claro sobre o universo de pesquisas”.
O consumo de derivados da Cannabis para fins medicinais avança no mundo. Israel foi o primeiro, depois EUA, Canadá, Holanda, Uruguai. Mais de 20 países têm regras que garantem o uso, embora não sejam tratados como medicamentos comuns.
Pesquisas apontam benefícios variados. Não cura, mas pode retardar avanço de doenças, aliviar sintomas e complementar tratamentos. Têm sido usado para epilepsia, dores crônicas, esclerose múltipla entre outros. O uso mais comum é na forma de óleo, como o CBD (extrato natural de canabidiol), em gotas.
O Conselho Federal de Medicina informou que “está analisando estudos de vários países sobre tratamentos, para confirmar ausência de riscos, após essa etapa, se pronunciará sobre o tema”. Vale destacar que fumar maconha é proibido no Brasil, pode causar dependência e trazer diversos prejuízos à saúde.