A conversa do governador Cid Gomes (PROS) com o senador Eunício Oliveira, na última sexta-feira, foi fria, rápida, porém respeitosa, mas extremamente esclarecedora quanto ao fato de que este não terá o apoio daquele na sua pretensão de ser candidato ao Governo do Ceará. Ambos estavam preparados para o momento. Sabiam o que diriam e escutariam um do outro, sempre com a preocupação de evitar ser esse ou aquele acusado de ter dado margem ao rompimento de uma aliança cuja duração já ultrapassou quatro eleições.
Embora não tenha surpreendido a qualquer dos observadores mais atentos aos acontecimentos políticos do Estado, o desfecho do encontro da última sexta-feira libertou esses dois políticos cearenses da angústia que a ambos dominava. Um, o governador, querendo adiar ao máximo uma definição dentro do grupo por ele liderado.
O outro, utilizando-se de todos os espaços a ele conferidos pelo mandato e a condição de principal liderança do seu partido, o PMDB, ter de buscar consolidar uma candidatura com as restrições naturais a quem faz parte de uma aliança.
Oposição
A Eunício, a partir da próxima semana, passado o prazo da desincompatibilização, na sexta-feira vindoura, quando o governador terá renunciado ou não ao mandato, já deverá começar a montar sua coligação com partidos hoje no campo das oposições, principalmente o PSDB e o PR, visto estar aparentemente bem consolidada a coligação da qual o PMDB fazia parte.
O senador peemedebista, se antes era uma esperança dos adversários do Governo para encabeçar a chapa concorrente, hoje é realidade, posto não ter outro caminho a seguir, por razões várias, senão a de manter a candidatura anunciada, há algum tempo, em todo o Estado.
Cid conhece, assim, o primeiro adversário do seu candidato ao Executivo estadual. Esse fato não o fará, por certo, antecipar o cronograma por ele próprio traçado para apresentar o ungido, mas, não há dúvida que a partir de agora vai disponibilizar mais tempo à sua sucessão.
Eunício, pela determinação já demonstrada, com os meios disponíveis para um enfrentamento, incluindo-se no rol o tempo para a propaganda eleitoral, no rádio e televisão, será um candidato competitivo, também por ser atraente para muitos dos descontentes com o Governo, até então carentes de um nome com expressividade. Os encontros que promoveu ao longo ano passado e mais recentemente, a título de reorganização do partido no Interior, garantiu ao senador uma ampla visibilidade e alimentou esperanças de uma candidatura própria do PMDB ao Governo.
Renúncia
Cid falta decidir, nesta semana, a parte mais importante do debate sucessório, no caso, dizer se fica ou sai do Governo. A renúncia ao mandato é a questão urgente e central. Não há nada além daquilo registrado pelo Diário do Nordeste, no último domingo, que por ter sido inusitado, acabou sendo o tema norteador de todos os comentários sobre a sucessão no Executivo cearense até hoje, principalmente após a sua confirmação pelo próprio governador, um dia imediatamente após a publicação.
Qualquer que seja a decisão, porém, ele só cuidará de nomes do seu grupo para a disputa de outubro, quando se aproximar o mês das convenções partidárias, definido pelo Calendário Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral, que é junho. Até lá só especulação, como tem ocorrido até aqui, do mesmo modo como aconteceu quando da última eleição municipal.
O governador não tem conversado sobre o assunto renúncia fora do ambiente familiar, ao que se sabe. Realmente é uma decisão muito pessoal, embora reflita diretamente nas definições sobre candidaturas e alianças. O núcleo central dos aliados está dividido. Os interesses norteiam as observações. Há quem argumente em favor da saída.
De igual modo, outros têm dados para justificar a permanência, inclusive acrescentando ter a ideia de renúncia surgido em razão de o governador ter tido a intenção de tornar mais uma vez pública a sua deferência ao irmão Ciro, a quem ele sempre destaca como sua principal liderança e exemplo de homem público.
O vice-governador Domingos Filho, peça importante no processo, não foi chamado para conversar com Cid sobre o sai ou fica. Como ele, todos os outros pretensos candidatos ao Governo, dentro do PROS, guardam grande expectativa, embora os que têm mais proximidade com Ciro, especificamente os deputados José Albuquerque e Mauro Filho, por ouvirem daquele declarações de que não tem interesse em disputar a vaga de senador, são enfáticos em afirmar que Cid fica no Governo.
O momento da definição, sabem os políticos, é o mais doloroso de todo o processo para o líder. Há um conflito entre os interesses pessoais e dos aliados, sem se falar naquele mais significativo, para os políticos responsáveis, que é o futuro das administrações. Hoje, embora existam afirmações categóricas sobre o fica ou sai, não erra quem afirmar ainda existir dúvidas na cabeça do próprio governador sobre que decisão tomar. Ele pode até resolver a questão, sem, contudo, ficar tudo bem definido na sua cabeça. O prazo é fatal. Não há prorrogação.
Nos próximos cinco dias, o núcleo central do Poder, como assinalamos no domingo passado, vai persistir argumentando que, embora seja importante o próprio Cid cuidar dos projetos do seu sonho (as obras em andamento), mais importante ainda é cuidar do futuro político seu e dos liderados, no Estado e no campo nacional, ainda pelo fato de, com ou sem Dilma Rousseff, 2018 projeta uma nova ordem política para o Brasil, com favoráveis perspectivas para os políticos jovens, experientes e limpos em plena atuação, compartilhando com os demais agentes e a própria sociedade, sempre mais exigentes quanto às reações dos nossos representantes políticos.
Fonte: Diário do Nordeste