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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Homicídio é causa nº 1 de morte não natural de negros em SP, diz estudo

Estudo do Instituto Sou da Paz sobre crimes violentos mostra que a principal causa de morte não natural de negros na cidade de São Paulo é o homicídio. No caso dos brancos, a estatística muda: são os acidentes de trânsito que provocam a maioria das mortes.

O estudo traça o perfil de todas as 6.202 vítimas de “causas externas” na capital em 2011. Elas representam 8% do total de mortes no ano: 79.224.

Segundo o instituto, o levantamento traz as informações mais atualizadas disponíveis no PRO-AIM, o Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade, ligado à Secretaria Municipal da Saúde.
No caso dos negros, os homicídios representam uma parcela de 29,2% das mortes violentas, enquanto os acidentes de trânsito são os principais responsáveis por mortes em razão de causas externas de brancos: 24,2% (neste grupo da população, os assassinatos são apenas a terceira causa, atrás de quedas acidentais).

Além disso, duas de cada três mortes em decorrência de confrontos com policiais (144 no total) são de negros. Na prática, isso significa uma taxa de 2,3 vítimas negras para cada 100 mil, contra 0,6 brancos por 100 mil no mesmo tipo de ocorrência.

Para Melina Risso, diretora do Instituto Sou da Paz, os dados reforçam a necessidade de uma mudança de atuação do poder público. "A gente ainda nao foi capaz de produzir ações para mudar esse quadro. Mesmo com a redução no número de homicídios na cidade, a gente continua a observar o mesmo perfil, o mesmo padrão de violência, com um público sendo mais afetado."

A maioria das vítimas de mortes violentas é composta por homens (78%), de 15 a 29 anos (29%).

Três regiões da cidade apresentam uma taxa de mortalidade por causas externas superior a 50 para cada 100 mil habitantes: Parelheiros (61,1), Casa Verde/Cachoeirinha (58,2%) e Brasilândia (55,3%).
Apenas três regiões têm uma taxa inferior a 34 mortes por 100 mil: Vila Mariana (27,3), Pinheiros (29,9) e Santo Amaro (31,3).

De acordo com o estudo, 22% das mortes por causas externas (1.347) são consequência de agressões – 67,7% por armas de fogo. Das vítimas, 91% são homens e 52% são negros.

Os jovens são maioria (44%). No caso de mortes por arma de fogo, Parelheiros encabeça o ranking de vítimas por 100 mil habitantes: 16,9. Os distritos periféricos registram um índice bem maior do que os do Centro. Pinheiros, por exemplo, possui o menor índice: 0,3.

"A violência, especialmente quando se fala em homicídios, é concentrada. Ela não se distribui de maneira igualitária. A concentração nas periferias é histórica e essas regiões precisam ser alvo de ações de prevenção focalizadas", diz Melina.

Entre os acidentes de trânsito, que somam 1.474 mortes, os atropelamentos representam quase metade dos registros (45%), seguidos por acidentes com motocicletas (35%).

No caso dos atropelamentos, uma em cada três vítimas tinha mais de 60 anos. A região da Vila Prudente, na Zona Leste, é a que detém o maior número de atropelamentos a cada 100 mil habitantes: 8,1.

Apesar de os homens serem maioria em quase todos os indicadores de mortes violentas, chama atenção a proporção de pessoas do sexo masculino mortas em acidentes de moto: 92% – uma taxa 12 vezes maior que a verificada para as mulheres. A maioria das mortes ocorreu nos fins de semana (38% das vítimas morreram no sábado ou no domingo). Cidade Tiradentes, com 7,5 mortes a cada 100 mil habitantes, é a que possui a maior taxa do município no quesito.

No caso de vítimas de acidentes com automóvel, o fenômeno se repete: 48% das mortes são registradas aos fins de semana.