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sábado, 2 de novembro de 2013

Sepultura de 'Moça do táxi' atrai curiosos em Belém


Josephina Conte nasceu em 1915, mas ainda hoje faz parte do imaginário popular em Belém. Segundo uma lenda urbana, a jovem gostava de andar de carro e, mesmo depois de morta, voltava ao mundo dos vivos para passear de táxi pela cidade. Após o percurso - que, de acordo com algumas narrativas, terminava na porta do cemitério - a jovem orientava que o motorista fosse cobrar a corrida na casa da família. No dia seguinte, quando a cobrança era feita, o motorista descobria que sua passageira da noite anterior já havia morrido de tuberculose, anos atrás.

De lenda urbana, Josephina foi alçada ao status de "santa popular". 


O escritor Walcyr Monteiro estuda o folclore de Belém há mais de 40 anos. Foi ele quem publicou, no livro “Visagens e assombrações de Belém”, de 1972, o primeiro registro escrito da história da “Moça do táxi”. “Desde criança ouço falar da ‘moça do carro de praça’, pois em Belém não se usava a palavra táxi antes de 1960. A história era reproduzida de motoristas através de terceiros, mas nunca encontrei uma pessoa que tivesse visto a passageira”, conta Walcyr.
Segundo ele, existem várias versões da lenda. “Os trajetos variam: do cemitério para casa, da casa para o cemitério, e dizem ainda que, na data do seu aniversário, Josephina pede que o motorista faça um tour pela cidade”, detalha o escritor.
um dos parentes da “Moça do táxi”: o empresário Jorge Conte é sobrinho de Josephina, e diz que relatos sobre a jovem transitam entre as gerações da família. “Essa minha tia era magrinha, tipo italianinha. Eu não cheguei a conviver com ela, mas olhava as fotos e minha tia contava muito da irmã dela, como ela era, aquela coisinha angelical”, disse.
Segundo Jorge, antes de morrer Josephina começou a apresentar sinais de magreza excessiva, e teve que ficar internada em isolamento no hospital, com suspeita de tuberculose – um diagnóstico que hoje é questionado pela família. “O meu tio que se formou médico, achava que ela teve na verdade um linfoma. Mas os médicos achavam, naquela época que não tinha recursos, que era tuberculose. E quando eram casos de tuberculose, eles isolavam a pessoa. Era uma doença tão grave, tão contagiosa que ela, coitada, uma menina tão linda, foi para o hospital e ficou isolada, dos 15 para os 16 anos. Para entrar no quarto tinha que passar álcool na maçaneta, e só as enfermeiras e os médicos entravam”, revela.
“O meu avô era apaixonado por ela, porque era a filha caçula dele, e quando ela estava pra morrer, ele ficou desesperado”, relembra Jorge, que atribui a origem da lenda a uma particularidade do velório da jovem. “Todos os enterros naquela época eram com aqueles carros fúnebres transparentes, bonitos, que você via a urna. E o certo era sempre aquele carro ir no sentido do hospital para o cemitério, e no caso dela foi o inverso. O meu avô quis que o enterro saísse da fábrica da família, como se fosse um cortejo. E começou daí a história”, pondera.
Para o empresário, outro detalhe contribuiu para o aumento dos boatos. “Como a rua era toda esburacada, no balançar do carro uma porta do caixão se abriu. Então as pessoas já achavam que alguém tinha ressuscitado, porque o cortejo saiu de trás do cemitério, e no sentido contrário”, conta.
Segundo Jorge, cerca de 5 anos após a morte de Josephina, a família estava almoçando quando um estranho bateu na porta. “Era um senhor que disse ‘olha, eu sou um chofer de táxi, motorista, e ontem eu fui ao cemitério e apanhei uma moça que me pediu para levar ela de lá até a Basílica, e me pediu pra ficar e esperando. Ela rezou, voltou, e me pediu para deixar ela de novo no cemitério, e cobrar a corrida na fábrica de calçados com o seu Nicolau’, que é meu avô”, disse.
De acordo com o empresário, quando o motorista descreveu a passageira a família chegou a pensar que uma das irmãs de Josephina tivesse ido ao cemitério, pela similaridade do relato. “Meu avô olhou pra minha outra tia, irmã dela, e perguntou ‘Você esteve ontem no cemitério para visitar a sua irmã?’, e ela respondeu que não, que não tinha ido no cemitério. Aí o motorista ficou olhando para dentro de casa e apontou para um quadro dizendo ‘é aquela ali’, porque nas salas daquelas casas antigas tinham as fotos né, nos quadros. Aí o meu avô olhou assim, e disse ‘mas essa já morreu’”, relata Jorge. “O cara ficou pálido, pálido, e foi aquela confusão. Ele ficou tão assustado que nem quis cobrar a corrida”.
Além desta ocorrência – que, segundo a família, foi a única cobrança feita por motoristas na casa dos Conte – outro fato intriga os parentes de Josephina. “O vovô mandou fazer a sepultura dela lá na Itália, e mandou uma foto que era pra fazer o porcelanato, porque as fotos eram incrustadas no mármore. Quando foram olhar aqui, tinha um broche de um carro, que na foto original não existia. Então todo mundo ficou abismado, ‘é a mulher do táxi, é a mulher do táxi’”, relembra.
Jorge diz que as visitas ao túmulo de Josephina começaram na década de 40, e que a família não se incomoda com as histórias sobre a jovem, apenas pede que tomem cuidado com a sepultura, que adquiriu um tom mais escuro por conta das velas deixadas por promesseiros. “achamos que as pessoas são livres para praticar suas crenças. A única coisa que a gente queria era que as pessoas não maltratassem tanto o túmulo né, porque já tá todo desconfigurado”.