Observar os padrões da norma culta, ter clareza e não fugir do tema são orientações válidas para toda prova de redação. Mas para os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que farão o texto no dia 4 de novembro, a maior dica dos professores de cursinhos é aproveitar a reta final para se informar sobre as competências avaliadas na redação do exame. Ter conhecimento dos itens que mais pesam na correção pode ajudar o estudante a dominar as particularidades da prova, evitando os erros mais comuns e podendo elevar sua pontuação.
Assim como nos anos anteriores, o tema será apresentado no caderno de provas acompanhado de textos de apoio, que servem para inteirar os alunos sobre o assunto e apontar aspectos dos quais a redação pode tratar. Porém, os especialistas observam que ainda é grande o número de estudantes que têm dificuldade em encarar os textos como ferramentas para orientar - e não constituir - a argumentação do texto. "Na tentativa de demonstrar que eles estão aproveitando a informação, os alunos copiam trechos desses textos. Isso não é bem recebido na medida em que se espera que o texto seja sempre uma reflexão do próprio estudante", diz Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli, de São Paulo.
É importante que o aluno esteja bem informado e leve para a prova um amplo repertório de conhecimentos cotidianos para enriquecer sua redação com aqueles mais pertinentes ao assunto. Eclícia relembra que a leitura do estudante é tão avaliada quanto a produção do texto, e, por isso, deve-se interpretar a proposta da prova com cuidado para fazer um bom recorte de informações e manter-se fiel ao tema. Evite assuntos regionais e ideias vagas Por outro lado, o aluno não pode esquecer que o Enem é uma prova nacional cuja correção é feita por educadores de todo o País. Por isso, diferentemente dos vestibulares estaduais, nem sempre é possível acomodar conhecimentos locais com sucesso na redação. "Apesar de precisar fazer uma prova além dos textos-base, quando se coloca informações do dia a dia da sua região, você corre o risco do corretor não compreender", diz o presidente de honra do cursinho Henfil, Mateus Prado. Se o tema da redação tratasse de corrupção na política, por exemplo, falar do escândalo do mensalão em vez da polêmica do Natal Luz de Gramado (RS) pode evitar ruídos na comunicação entre um aluno gaúcho e um corretor paulista.
Os professores também atentam para a última das cinco competências exigidas pela prova, que, desde 2009, compõe o grande diferencial do Enem em relação aos vestibulares tradicionais: a redação deve terminar com a apresentação de uma solução viável, ética e inovadora ao tema, fazendo do teste um momento de exercício da cidadania pelo estudante. Nas provas comuns, desde que exponha argumentos sólidos e claros o suficiente, o aluno pode obter uma boa pontuação mesmo se defender uma opinião relativamente controversa (negando a existência do aquecimento global ou sendo a favor do desmatamento, por exemplo).
No caso do Enem, os candidatos que propõem algum tipo de desrespeito aos direitos humanos zeram o escore do texto. Como as soluções também são avaliadas pelo caráter prático, os alunos devem fugir de respostas vagas ou lugares-comuns, como o famoso "precisamos nos conscientizar". "Esse tipo de proposta acaba sendo muito superficial porque serve para praticamente qualquer tema e não considera a especificidade daquela discussão", diz Eclícia.
Outra dica de Prado para pontuar melhor na redação é construí-la de forma crescente, relacionando os argumentos do próximo parágrafo com os do anterior. Segundo o educador, a maneira mais fácil de construir um texto envolvente é optando pela estrutura em cinco parágrafos, reservando a introdução para a apresentação da tese, o corpo do texto para o desenvolvimento dos argumentos e a conclusão para reiterar o posicionamento do aluno e propor uma solução inovadora à problemática do tema. "O melhor argumento deve estar sempre no último parágrafo, retomando o que foi dito antes", recomenda.
Embora o formato da redação no Enem possa parecer mais desafiador do que o modelo dos vestibulares convencionais, os especialistas lembram que os alunos não farão a prova de 2012 "no escuro": o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, divulgou em julho um guia de redação para esclarecer aos candidatos a metodologia e os critérios de avaliação dos textos. Milhões de cópias do guia foram distribuídas em escolas públicas de todo o Brasil, e o documento está disponível para download no site do órgão.