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sábado, 4 de agosto de 2018

PT lança candidatura de Lula, encarcerado, à Presidência

O Partido dos Trabalhadores (PT) lança neste sábado (3) a candidatura de seu líder encarcerado, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma aposta improvável que confirma, no entanto, o papel central do ex-presidente na política nacional.

Além do PT, que vai celebrar sua convenção em São Paulo, outros dois fortes candidatos lançam suas candidaturas às eleições de 7 de outubro, com eventual segundo turno no dia 28 do mesmo mês.

Em Brasília, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin será proclamado candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, centro-direita). Esta será sua segunda tentativa de comandar a maior economia latino-americana, depois de perder para Lula em 2006.

Também na capital, a Rede vai lançar a candidatura da ambientalista Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e que chegou em terceiro lugar nas presidenciais de 2010 e 2014.

Tanto Alckmin quanto Marina poderiam ser sérios adversários em um segundo turno com o já proclamado candidato de ultradireita Jair Bolsonaro, que lidera as intenções de voto na ausência de Lula.

Mas de fato, mais uma vez - embora desta vez de dentro da prisão em Curitiba, Lula (2003-2010) - aparece como figura central da campanha.

O ex-presidente de 72 anos foi candidato três vezes (em 1989, 1994 e 1998) antes de vencer as eleições de 2002 e 2006, e de eleger nas duas seguintes (em 2010 e 2014) sua herdeira política, Dilma Rousseff, destituída pelo Congresso em 2016.

Agora, conta com inquebrantáveis 30% das intenções de voto, praticamente o dobro de qualquer de seus adversários, apesar de cumprir desde 7 de abril pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A condenação foi confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), uma corte de apelação, o que deveria inabilitá-lo a disputar uma eleição, devido à Lei da Ficha Limpa, promulgada por ele próprio no último ano de seu mandato.

Mas à espera do que a Justiça eleitoral vai determinar (provavelmente na segunda quinzena de agosto), ninguém impede ao PT proclamá-lo candidato, atraindo ainda mais visibilidade sobre estas que se anunciam como as eleições mais incertas desde a volta da democracia em 1985.

"Segue líder", diz o mais recente anúncio eleitoral on-line do PT, que mostra a foto de um Lula sorridente com sua já tradicional camiseta preta e uma jaqueta.

- Passando o bastão? -

Para a direção do PT e muitos militantes de esquerda, falar de um plano alternativo a Lula soa como heresia. Mas mesmo assim, na convenção de sábado, os olhares estarão atentos à nomeação do candidato a vice-presidente, uma personalidade que poderá terminar substituindo-o como candidato à Presidência.

O nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad é um dos que se ouve com força. Um político jovem e carismático, que faz parte da equipe legal do ex-presidente, o que dá livre acesso ao líder na prisão.

Mas alguns analistas acreditam que o partido, extremamente debilitado desde a destituição de Dilma Rousseff, os escândalos de corrupção e o baque que sofreu nas eleições municipais de outubro de 2016, poderia escolher uma personalidade de menor peso, prevendo uma derrota que poderia acabar com a inabilitação de Lula.

Alckmin, por sua vez, nomeou a senadora gaúcha Ana Amélia (Partido Progressista, PP) como sua companheira de chapa. Uma nomeação que poderia ajudá-lo a atrair votos do eleitorado feminino e do sul, além de debilitar o apoio a Bolsonaro.

Marina Silva escolheu para vice Eduardo Jorge, um médico sanitarista do Partido Verde (PV), que disputou as presidenciais de 2014, quando teve menos de 1% dos votos.

Bolsonaro, que capitaliza a indignação do eleitorado pelos escândalos de corrupção e a violência galopante, ainda não definiu seu companheiro de chapa. O astronauta Marcos Pontes, o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o general da reserva Augusto Heleno e a advogada Janaína Paschoal, coautora do processo de impeachment de Dilma Rousseff, são alguns dos nomes aventados nos últimos dias.

De qualquer forma, todos os candidatos terão que lidar com a indignação e a apatia do eleitorado.

Duas pesquisas recentes mostram que de 33% a 41% dos eleitores estão tentados a se abster de votar. Se Lula for candidato, esse percentual diminui, mas continua abrangendo um quarto do colégio eleitoral.

Em todo caso, tudo parece indicar que pela oitava vez consecutiva, Lula será uma figura-chave na corrida presidencial.

Fonte: AFP