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domingo, 2 de julho de 2017

Ceará registra cerca de 2.300 assassinatos em seis meses

O Ceará encerrou o primeiro semestre do ano com, aproximadamente, 2.300 crimes violentos letais intencionais (CVLIS) - homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Nas estatísticas alarmantes da violência no estado, os homicídios a bala dominam. Conforme levantamento preliminar da reportagem, feito com base em dados disponibilizados ao longo dos meses pela secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), só no mês de junho foram registrados, pelo menos, 440 assassinatos.
Nos seis primeiros meses do ano passado, a SSPDS registrou 1.743 mortes violentas. A mudança nos números mostra que, quando comparado com igual período deste ano, houve um aumento aproximado de 30% nos casos. Só em maio, o mês mais violento dos últimos dois anos, aconteceram 471 assassinatos.
A brutalidade nas execuções e a justificativa que a maioria dos crimes estão ligados ao tráfico assusta. Na madrugada da sexta-feira (29), um adolescente de 16 anos foi morto em uma quadra esportiva, no conjunto São Cristóvão. Horas antes, outro jovem foi perseguido e assassinado, no bairro presidente Kennedy.
Só em junho, aconteceram duas chacinas. A primeira no dia 3 de junho, em uma casa na praia do porto das dunas, em Aquiraz. Seis homens que estavam no local participando de uma festa foram mortos. A matança teria sido motivada por uma rivalidade entre facções. Nenhum suspeito foi preso.
A outra chacina aconteceu em horizonte e gerou comoção, porque uma das vítimas era uma criança de apenas três anos. Além dele, mais quatro pessoas foram mortas. Outras três pessoas foram baleadas e sobreviveram. O alvo dos criminosos seria um dos sobreviventes. Um suspeito do crime foi preso e outros três estão sendo procurados.
Elucidação
A SSPDS afirma que, apesar do alto número de CVLIS, o ceará tem um dos maiores índices de elucidação de homicídios do brasil. Conforme a pasta, no estado, cerca de 23% dos assassinatos são elucidados. A média de resoluções no brasil é de 8%.
O professor e pesquisador do laboratório de estudos da violência da universidade federal do ceará (ufc), Leonardo Sá, lembra que a guerra de facções não é um fato isolado. Para o especialista, há um conjunto de fatores que provocam o aumento nos números.
"o sucateamento da polícia civil, a falência do sistema penitenciário e a ausência de políticas públicas de segurança cidadã também geram problemas. É preciso questionar se nas entrelinhas, o agente da lei não está estimulando o raciocínio de que o estado não tem obrigação de apurar a morte de criminosos", pontua o pesquisador Leonardo Sá.
Os homicídio a bala dominam. Com eles, vêm outra realidade: sobram armas nas ruas. Apreensões recentes mostram que os criminosos estão em posse de armamentos de grosso calibre que, muitas vezes, são mais potentes que os da polícia.
Em entrevista ao diário do nordeste, o secretário de segurança pública do ceará, André Costa, lembrou que algumas determinações para as execuções vêm de presídios. "temos vários casos de pessoas que prendemos e já respondiam a quatro, cinco homicídios. Grande parte dessas mortes, hoje, são praticadas por pessoas que já têm antecedentes. Precisamos que essas pessoas sejam julgadas e condenadas, para que não voltem às ruas. E precisamos de um sistema prisional eficaz, para neutralizar o contato dessas lideranças com quem está nas ruas", disse.
O professor Leonardo Sá destaca que o estado tem responsabilidade direta em uma mudança. "os criminosos foram recrutados nas prisões para as facções, ou seja, o estado mantém prisões que são escolas do crime. É responsabilidade do estado mudar essa realidade", lembrou.
Para combater a violência, a SSPDS afirma que foram adotadas diversas estratégias. Dentre elas, a ampliação de cinco para 11 no número de delegacias da divisão de homicídios e proteção à pessoa (DHPP).