Uma quadrilha internacional especializada no plantio, produção e distribuição de maconha em larga escala para países da Europa utilizou o Estado do Ceará para lavar milhões de euros provenientes do mercado ilícito. Ontem, a Polícia Federal (PF) e a Polícia Judiciária da Holanda deflagraram a "Operação Fiorino", quando foram cumpridos três mandados de busca e apreensão em Fortaleza e na cidade de Arnhem, distante 100Km de Amsterdã, na Holanda.
Na Capital, o alvo da operação foi uma residência localizada em um condomínio de luxo na Rua Tâmisa, na Praia do Futuro. O imóvel, avaliado em R$ 1,6 milhão, teria sido comprado por um empresário holandês apontado pela Polícia Federal como sendo o principal integrante desta organização criminosa. Ele é casado há cinco anos com uma cearense e teria utilizado esta ligação para lavar milhões de euros no Ceará.
De acordo com o titular da Delegacia Regional Executiva da PF, delegado Wellington Santiago, as investigações apontaram que o homem teria escondido uma considerável quantia em dinheiro na parte externa da residência. Em posse das informações, policiais brasileiros e estrangeiros realizaram buscas com o auxílio de um equipamento de rastreamento de solo. O dinheiro, no entanto, ainda não foi localizado.
No interior do imóvel, os investigadores encontraram cartões de créditos cortados e diversos documentos, que, segundo a PF, podem ter relação com a lavagem de dinheiro na Capital.
"Já é comprovado que o homem internalizou milhões de euros para o Ceará. Chegou a informação que todo esse dinheiro estava nesta casa da Praia do Futuro, porém até agora não foi encontrado. Mas no local foram identificados vestígios de ocultação de informações, como os cartões que estavam destruídos. Além dos vários documentos, que podem indicar a compra de outros bens, como forma de lavar o dinheiro da quadrilha", relatou o delegado federal.
O titular da Delegacia Regional da PF ressaltou que a mulher cearense está morando atualmente na Holanda. O delegado informou que a Polícia Federal está atuando somente no cumprimento do mandado de busca e apreensão, mas, caso seja comprovada a participação da cearense no esquema ilícito, a esposa do empresário poderá ser alvo de uma nova investigação referente à lavagem de dinheiro.
"Esta é apenas uma das fases da operação. Agora vão ser verificados quais os documentos apreendidos na cidade e qual a relação deles com o crime", reiterou Santiago.
Holanda
Durante o cumprimento dos dois mandados de busca e apreensão na cidade holandesa de Arnhem, a Polícia Judiciária apreendeu R$ 125 mil euros, que estavam escondidos em um porão. Os policiais ainda encontraram um cofre na adega da residência, contendo milhões em euro. O valor exato, porém não foi revelado. Os pais do empresário apontado com o chefe da organização criminosa acabaram sendo presos, ontem, durante a operação policial.
O adido Policial da Embaixada da Bélgica no Brasil, Kurt Boudry, informou que o dinheiro localizado no imóvel é oriundo do mercado de produção e distribuição de maconha. O esquema é comandado pelo esposo da brasileira. A identificação do casal, porém, não foi revelada pelas autoridades para não atrapalhar o curso das investigações.
Segundo Kurt Boudry, o homem possui uma loja legalizada de venda de maconha na Holanda. O comércio, no entanto, seria utilizado como fachada para realizar o plantio, produção e comercialização do entorpecente, prática que é proibida no País. O empresário holandês já foi alvo de outras operações policiais. A cearense também já havia sido presa. Atualmente, o homem cumpre uma medida judicial estabelecida pela Justiça holandesa e não pode deixar o País.
"Em 2014, a organização foi alvo de 15 mandados, que resultaram na apreensão de milhões de euros. Alguns envolvidos também cumprem medidas judiciais daquele país. O alvo principal tem essa loja nos Países Baixos (Holanda), mas em paralelo ele distribuí maconha para países como Turquia, Alemanha e Bélgica, movimentando milhões de euros por ano", salientou o belga Kurt Boudry.
O adido policial descartou que a quadrilha utilizasse o Brasil para distribuição da maconha produzida na Holanda. Conforme Kurt, a única ligação do País com o esquema criminoso seria a compra de bens no Ceará para lavagem de dinheiro.
Fonte: Diário do Nordeste