Sentados em cadeiras ordenadas ao longo do saguão da Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) III, em Itaitinga, 94 homens, internos do sistema prisional, ouviram, na manhã de ontem, o professor e secretário estadual do Meio Ambiente, Artur Bruno, falar sobre assuntos da atualidade. O momento é de preparação para a edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os presos farão as provas em dezembro.
Vários dos 1.682 inscritos no exame estão aproveitando a oportunidade para conseguir a certificação do ensino médio, de acordo com o assessor educacional da Secretaria Estadual da Justiça (Sejus), Rodrigo Moraes. É o caso de Adriano, 28, que deixou a escola no 2º ano para trabalhar e ter renda própria, antes de transgredir a lei e ser preso. Com a mentalidade de hoje, entretanto, diz que não repetiria a troca. “Se me perguntarem agora se prefiro estudar ou trabalhar, prefiro estudar”.
Do ano passado para cá, cresceu 44,13% o número de presos inscritos no Enem. “Precisamos ocupar essas pessoas. Esse aumento já mostra a importância que a educação tem para o desenvolvimento delas”, argumentou o secretário-adjunto da Sejus, Sandro Camilo.
Renato, 34, concluiu o ensino médio aos 18 anos e chegou a cursar Administração e Marketing antes de ser preso. Com as aulas preparatórias para o Enem, pretende dar continuidade aos estudos. Está acompanhando as aulas, embora tenha deixado de se inscrever no exame, pois achava que, até lá, estaria fora da prisão. “É oportunidade de conhecer outras pessoas e ter novos conhecimentos”.
Preparação
Durante esta semana, internos das 58 unidades prisionais que aderiram ao Enem vão receber aulas preparatórias como a de ontem. Devem ministrar as aulas professores de diferentes cursos universitários, segundo a Sejus. “Esses alunos são como os de escola pública e privada. Não há muita diferença. Eles veem televisão, têm aulas, acesso a biblioteca. Me surpreendi com as coisas que eles sabem”, descreveu Artur Bruno.
Aureliano, 35, é um dos estudantes que surpreendem pela fala ágil e acertada. Disse que, mesmo preso por “falhar com a sociedade”, a vida não parou. “Não temos que pensar a partir de quando sairmos do sistema prisional, temos que aproveitar o que a própria unidade oferece”, afirmou.
O POVO opta por divulgar apenas o primeiro nome dos presos para resguardar a identidade.
Saiba mais
Nas unidades prisionais, o Enem funciona praticamente da mesma forma como é realizado em todo o País. Por conta da logística, ocorre em dias diferentes. Neste ano, será nos dias 1º e 2 de dezembro.
Dos inscritos, 1.131 são de unidades da Região Metropolitana de Fortaleza e 551 são do interior do Estado.
No Ceará, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Dom Aloísio Lorscheider, vinculada à Secretaria da Educação, é responsável pelo ensino dos internos.
A cada 12 horas/aula, um dia é abatido da pena do interno.
Fonte: Jornal O Povo