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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Após confronto em Brasília, Temer convoca o Exército

O protesto organizado por centrais sindicais e movimentos de esquerda contra as reformas previdenciária e trabalhista, pela saída do presidente Michel Temer e por eleições diretas transformou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em um palco de batalha com a Polícia Militar e a Força Nacional nesta quarta (24).
Sete ministérios depredados, um incendiado, 49 atendimentos de urgência -entre eles o de um homem baleado e de um estudante de Santa Catarina que teve a mão decepada por um rojão- são alguns dos números do ato, que reuniu 35 mil pessoas, segundo a PM, e 150 mil, de acordo com organizadores.
Por decreto, válido até o próximo dia 31, Temer convocou as Forças Armadas para conter manifestações de rua. À noite, os prédios dos ministérios já tinham proteção de homens do Exército.
Com o prédio do Ministério da Agricultura em chamas, devido a um incêndio causado por manifestantes, PMs que não dispunham de armamento não letal sacaram suas armas e dispararam, para o alto e em direção à multidão, que avançava sobre a polícia.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (DF), sete pessoas foram detidas sob suspeita de crimes como lesão corporal, dano ao patrimônio público e porte de arma branca.
Até a conclusão desta edição, a secretaria não havia informado a identidade do homem baleado nem quem disparou o tiro que o acertou.
A manifestação dos sindicalistas e grupos de esquerda contra a agenda de reformas estava marcada desde antes de vir a público a investigação contra Temer, resultante da delação da JBS. As suspeitas de corrupção e de obstrução da Lava Jato, divulgadas na semana passada, engrossaram o protesto.
"O ato foi maior do que o esperado, e 150 mil em Brasília são milhões representados pelo Brasil", disse Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Membros do governo também avaliaram que o volume de pessoas foi significativo.
Autoridades calcularam que entre 500 e 600 ônibus de outras cidades chegaram a Brasília. "É importante lutar por diretas, principalmente porque esse governo quer impor reformas sem consultar o povo e sem ter uma base de votos", disse o agente comunitário de saúde Luciclaudio Bezerra, 39. Ele enfrentou viagem de cerca de 39 horas de ônibus de Santa Cruz (RN) para participar do ato.
Foram mais de quatro horas seguidas de confronto ao longo do Eixo Monumental, onde ficam os ministérios. O ponto mais crítico foi o gramado próximo ao Congresso.
Manifestantes armaram barricadas com banheiros químicos e atiraram paus, pedras e fogos de artifício, enquanto a polícia lançava bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha. Havia sindicalistas, professores, estudantes e também pessoas mascaradas.
CONFRONTO
O conflito começou por volta das 13h30, quando a manifestação se aproximava de um bloqueio policial a 500 metros do Congresso. Primeiro, chegaram sindicalistas de roupa laranja da Força Sindical, que forçavam as grades e eram repelidos com spray.
Depois, uma multidão se engajou na tentativa de invadir o Congresso. Dos carros de som, líderes pediam calma, mas não eram ouvidos. "Companheiros mascarados, por favor, temos mães aqui, vamos manter a calma", pediu a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM).
Quando ficou claro que as bombas não cessariam, líderes como Zé Maria (PSTU) disseram para os manifestantes resistirem à ação da polícia.
Com a confusão, participantes do ato começaram a recuar para o estádio Mané Garrincha. Quem passava pela rua era atingido por bombas e disparos --um homem ficou com uma bala de borracha alojada no pescoço.
Dois homens, de 18 e 35 anos, foram feridos no olho por tiros de bala de borracha e levados ao Hospital de Base. Até a noite, não havia saído um balanço dos feridos.
Usuários de ônibus no terminal rodoviário, a 2 km do Congresso, sofreram com spray de pimenta. Jornalistas ficaram no fogo cruzado.
Por volta das 18h, a Esplanada estava praticamente esvaziada pela polícia. Mais cedo, o governo liberou servidores para que abandonassem os prédios.