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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Facções ordenaram overdose que matou presos no CE, denuncia DPE

Dois presos foram obrigados a ingerir droga e morreram por overdose na semana passada em presídio na Grande Fortaleza por ordem de facções, conforme denúncia do defensor público Emerson Castelo Branco, do Núcleo de Atendimento ao Preso Provisório (Nuapp). Os detentos teriam se recusado a integrar organizações criminosas e, por isso, foram forçados a ingerir um coquetel de drogas.

Ele afirma ainda que a defensoria apurou, após vistorias no complexo, que na segunda-feira (9), dois presos também foram obrigados a engolir o coquetel e foram encontrados deitados e agonizando na CPPL IV, em Itaitinga, Grande Fortaleza. "A direção do presídio improvisou pra levar para o hospital, porque se fosse esperar ambulância seriam mais dois mortos noticiados", declarou. A Secretaria e Cidadania do Estado (Sejus) negou o ocorrido e disse  os dois presos estavam ameaçados de morte na CPPL IV e precisaram ser isolados da vivência. A pasta acrescentou que os detentos não apresentavam problemas de saúde nem ingestão de drogas.

A respeito das mortes, a Sejus informou também que estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios e que aguarda a conclusão das investigações.
Francisco Gilliard André da Silva e Leonardo de Sousa Mesquita, ambos de 21 anos e internos da Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV), em Itaitinga, morreram na noite de sábado (7). Eles foram retirados das vivências pelos agentes penitenciários com vida, mas não resistiram. A Sejus havia divulgado que a suspeita é de que eles tenham morrido vítimas de overdose. Francisco Gilliard respondia por tráfico de drogas e Leonardo de Sousa respondia por receptação e tráfico de drogas.
O defensor sustenta que a denúncia foi verificada após contato com a direção do presídio, com agentes penitenciários e com familiares dos detentos. "Eles foram obrigados a utilizar aquele coquetel porque não queriam 'vestir a camisa', que no linguajar do presídio é fazer parte de alguma das facções", explicou.

Castelo Branco disse que a defensoria segue acompanhando a situação e que vai entregar, até o início da próxima semana, uma lista com recomendações à nova secretária da Justiça e Cidadania, Socorro França.

O defensor aponta que não é possível precisar do que é feito o coquetel, apesar das especulações de que teria até caco de vidro, e que é preciso aguardar conclusão do laudo. "Hoje os presídios claramente têm uma divisão por facções, inclusive essa é a razão de toda essa matança Brasil afora. Essa guerra tem gerado um problema novo, que antes não era tão grave. É o preso de massa, que não faz parte de facção alguma e não quer fazer, mas está nesse fogo cruzado, coagidos, obrigados a tomar partido", destaca o promotor.

Superlotação agrava crise

Emerson Castelo Branco reforça a denúncia de superlotação nas unidades prisionais. "A realidade no Ceará são celas com amontoados de homens, entre 15, 20 homens. Esse compacto promíscuo permite que essas pessoas sejam massa de manobra, pra serem escravizadas", diz. "Essa massa carcerária, às vezes tem gente primária, que teria condição não de sair recuperado, porque presídio não recupera, mas de não ter seu quadro agravado. Elas acabam se tornado reféns, porque hoje tenho fenômeno de escravidão de presos, e não é de hoje, mas se agravou" .

"Estou no sistema há 13 anos, semanalmente indo aos presídios há 8 anos. E há 4 anos já dizíamos e alertávamos que tinham facções no presídio. Mas o governo do estado, há 4 anos, diz que não existe, encobrindo, pra resguardar a própria imagem. Agora admite. É um atestado de falência da gestão".

Fonte: G1