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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Aécio Neves entra na mira do STF após novo escândalo

Após a queda do ministro do Planejamento, o agora senador Romero Jucá (PMDB-RR), em meio à articulação e execução do golpe de Estado, em curso no país, a ação do Judiciário desperta apreensão entre os líderes tucanos para um rápido desfecho contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Os novos fatos tendem a alterar o curso da disputa entre os caciques tucanos. Citado em diferentes delações premiadas e gravações incidentais, o candidato derrotado em 2014 pela adversária petista Dilma Rousseff coleciona suspeitas de liderar uma quadrilha que atua na circulação de propina em estatais, empreiteiras e no tráfico de influência.

Investigado pela Polícia Federal e citado no escândalo da Lava Jato, Aécio Neves entra no campo de mira do ministro Teori Zavascki, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), após revelada a trama golpista que afastou Dilma Rousseff do cargo. Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado foram flagrados enquanto articulavam o impedimento da presidenta eleita, democraticamente. Na conversa, Aécio Neves foi citado como o primeiro em uma lista de futuros réus no STF, com todas as consequências políticas que o processo possa significar.

A luta fratricida, no ninho tucano, ganhou novos episódios, nesta manhã, com a articulação do chanceler José Serra — porta-voz do governo golpista no Itamaraty — para assumir o cargo deixado por Romero Jucá. Se alcançar o objetivo, reduzem-se as chances para as possíveis candidaturas, em 2018, de Aécio Neves, prestes a se ver diante da Justiça, e do governador paulista Geraldo Alckmin, náufrago em outros escândalos no seu Estado, como o da merenda escolar e do Metrô.
Uma provável ascensão de Serra, no entanto, estaria com os dias contados até a votação, no Plenário do Senado, para o retorno ou o afastamento definitivo de Dilma, que se fortalece nas ruas, junto aos movimentos civis e nas redes sociais. Pertencer a mais um governo fracassado, para Serra, seria a pior das credenciais junto aos eleitores. O ministro de facto das Relações Exteriores, no entanto, teve seu possível envolvimento em esquemas criminosos citado por Jucá.
Confiantes que um pedido de prisão de José Serra, hoje, seria o cenário mais pessimista, os articuladores do governo imposto passam a lidar, prioritariamente, com a situação de Aécio Neves fora do páreo. Afinal, os holofotes do Judiciário se voltam, agora, para os fatos que marcam as investigações sobre o ex-governador mineiro.
Aécio Neves foi citado no depoimento do doleiro Alberto Youssef, em uma de suas delações premiadas. O réu afirmou, diante do juiz Sérgio Moro — titular da vara federal do Paraná — ter ouvido do ex-deputado José Janene (filiado ao PP, morto em 2010) que Aécio dividiria uma diretoria de Furnas com o PP e que a irmã dele faria uma suposta arrecadação de recursos junto à estatal Furnas S/A, uma empresa de economia mista ligada ao Ministério das Minas e Energia. A arrecadação e distribuição de propina teria ocorrido entre 1996 e 2000, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 25 de agosto do ano passado, durante acareação entre Youssef e Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras) na CPI da Petrobras, o doleiro reiterou que Aécio recebeu dinheiro desviado de Furnas.
— Eu confirmo (que Aécio teria recebido dinheiro de corrupção) por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele — respondeu Youssef à pergunta de um deputado.
Em 2015, o ministro Teori Zavascki arquivou o caso por insuficiência de informações, seguindo proposta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mas poderá reintegrá-lo, a qualquer tempo, como subsídio ao processo da Lava Jato.
O senador mineiro também foi descrito como “o mais chato” cobrador de propinas, em julho do ano passado, no depoimento do entregador de valores Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará. O funcionário do doleiro Youssef disse — em outra delação premiada — ter ouvido que Aécio Neves cobrava, insistentemente, propina junto à empreiteira UTC. Ceará, um dos contratados do doleiro Alberto Youssef para transportar valores, disse ter levado R$ 300 mil a um diretor da UTC, no Rio de Janeiro, e que o montante seria destinado ao senador do PSDB. Ainda de acordo com Ceará, esse diretor, de sobrenome Miranda, estava ansioso pela “encomenda” e que teria dito:
— Esse dinheiro tá me sendo muito cobrado.

Aécio, propinas e escândalos

Antes de Machado se referir ao “esquema do Aécio”, na trama para derrubar o governo eleito, uma outra confissão se destaca no processo contra o político mineiro. No início deste ano, o lobista Fernando Moura, em depoimento ao juiz Sergio Moro, disse ter ouvido relato de uma suposta divisão de propina proveniente da estatal Furnas entre o PT e Aécio Neves. Segundo Moura, na sua delação premiada, o senador mineiro indicou Dimas Toledo para um cargo de direção em Furnas, logo após a eleição de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente pela primeira vez.
Moura é apontado pela Lava-Jato como lobista ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Segundo o delator, ao assumir a diretoria, Dimas Toledo disse a ele que “em Furnas era igual”, numa referência ao esquema de propina. Ele disse:
— Não precisa nem aparecer aqui. Vai ficar um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio — afirmou Moura em depoimento.
As suspeitas que pesam sobre Aécio Neves foram ampliadas no acordo de delação premiada que o senador cassado Delcídio Amaral negocia com a Justiça. Amaral falou, em juízo, sobre suposta atuação de criminosa de Aécio Neves na CPI dos Correios, em 2006, durante as investigações do escândalo que deu origem à Ação Penal 470, no STF, conhecido como ‘mensalão’. À época, Aécio era governador de Minas Gerais e o PSDB local entrou no foco das investigações porque tinha adotado esquema semelhante para financiar campanhas eleitorais, em nível regional.

A gravação de Jucá

Ex-ministro do Planejamento, o senador Romero Jucá citou o ministro Serra e os senadores Aécio Neves, Aloysio Nunes e Tasso Jereissati, todos do PSDB, nas gravações que desembarcaram, nesta manhã, na Procuradoria Geral de Justiça (PGR), em Brasília. “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”, disse Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, em referência à Operação Lava Jato.
Jucá afirma, ainda, que Aécio não ganharia eleições:  “O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, p… Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…”. Os diálogos de uma hora e 15 minutos sugerem um pacto, inclusive com “o Supremo, com tudo”, para barrar a Lava Jato.
Machado: ”A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…”
Jucá: “Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…”
Machado: “Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já”.
Jucá: “Caiu. Todos eles. Aloysio (Nunes, senador), (o hoje ministro José) Serra, Aécio (Neves, senador)”.
Machado: “Caiu a ficha. Tasso (Jereissati) também caiu?”.
Jucá: “Também. Todo mundo na bandeja para ser comido”.
Machado: “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”.

Jucá: “Todos, p…. E vão pegando e vão…”.
Machado: “O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? (E muda de assunto…) Amigo, eu preciso da sua inteligência”.
Jucá: “Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar”.
Machado: “Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo”.
Jucá: “Não, o tempo é emergencial”.
Machado: “É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês”.
Jucá: “Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? (…) Eu acho que você deve procurar o (ex-senador do PMDB José) Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar”.
Machado: “Acha que não pode ter reunião a três?”
Jucá: “Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você”.
Mchado: ”Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande”.
(…)
Machado: “É aquilo que você diz, o Aécio não ganha p… nenhuma…”.
Jucá: “Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não”.
Machado: ”O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…”
Jucá: “É, a gente viveu tudo”, conclui.
Fonte: Correio do Brasil